Duas guerras em uma

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Publicado Quarta, 02 de Abril de 2003 às 19:16, por: CdB

O balanço das primeiras semanas de guerra impõe a pergunta sobre o seu significado para o lado iraquiano. O que pensam o povo, Saddam e os oficiais? Por que lutam uma guerra que parece de antemão perdida? Ela está mesmo perdida? Derrotas e baixas A continuação da guerra dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha contra o Iraque provocou as primeiras e inevitáveis baixas entre as forças da coalizão no campo da informação. Não poderia ser de outro modo: o confronto com as imagens indesejáveis da guerra, os efeitos dos bombardeios, as vítimas civis, os feridos e mortos entre os invasores, tudo isso começa a afetar o moral do mundo da informação, mais "alinhável" antes do conflito de fato começar. Começam a surgir os depoimentos contraditórios: repórteres ou militares que divulgam o que não deveria ser divulgado, como a versão de que quando uma patrulha norte-americana metralhou uma van cheia de civis e matou três mulheres e quatro crianças, não houve qualquer aviso prévio. Além de casos como esse, individualizados, também pode ser computado como "baixa" o fato da insistência dos comandos norte-americano e britânico em apresentar o rumo da guerra basicamente como de acordo com os planos iniciais chocar-se com o que a maioria dos informes possibilita deduzir. Houve erros de planejamento e de execução no campo de batalha, sendo o maior deles o de natureza política, o de querer criar uma retórica de que as forças invasoras seriam recebidas como libertadoras. Não só não funcionou como criou uma barreira contrária, que recobre todas as informações passadas pelo comando invasor com uma aura de descrédito. Também o comportamento geral da imprensa nas entrevistas coletivas de militares e governantes começou a mudar, provocando ondas de mau humor e afirmações intempestivas por parte sobretudo dos políticos, como Bush e Rumsfeld, que passaram a ter gestos de desagrado diante das câmeras, ou de militares que, embora mais comedidos nos arroubos, passaram a recomendar claramente atitudes de auto-censura. Primeiras vitórias De qualquer modo, os invasores conseguiram sucesso em alguns objetivos não desprezíveis. No campo militar, a invasão consumou-se: está retardada, faltam reforços, a resistência foi maior, mais intensa e de outra natureza do que a propalada (duvido que entre os militares não houvesse quem estimasse que a resistência seria essa mesma, dura e abrangente). No campo informativo a invasão também conseguiu sucessos palpáveis. O primeiro deles foi determinar que o lado adversário não tem a menor chance já não digo de vencer, mas de escapar da derrota inexorável. O desfecho da guerra é um só: a tomada de Bagdá é uma questão de tempo e de relação entre custo e beneficio. Será melhor para os invasores enfrentar o risco de uma luta corpo a corpo, com baixas pesadas, ou adotar a tática de um cerco prolongado, reduzindo a população pela fome e pela sede, com um custo político agregado talvez maior que o da primeira hipótese? A chave deste primeiro sucesso foi a de se apoiar na superioridade tecnológica dos Estados Unidos. A imagem dos bombardeios sobre Bagdá é importantíssima na construção desse argumento, bem como as imagens expostas nas coletivas do comando norte-americano do Catar. Estas imagens, muitas em tomadas noturnas, mostram alvos destruídos com precisão: casas de munição, tanques, caminhões. Tudo isso se contrapõe às imagens do mercado de Bagdá semi-destruído, que aponta para duas hipóteses: erro de cálculo ou intenção deliberada de atingir a população civil, nenhuma delas vantajosa para os invasores. O segundo sucesso foi o de determinar em ampla escala o ponto de vista do qual a guerra é informada, comentada, analisada: mesmo quando se oponha, o comentário parte do ponto de vista da invasão, e de seu sucesso militar inevitável. Debatem-se os acertos, os erros, os avanços, os impasses, os erros políticos, os acertos, a justiça ou a injustiça dos norte-americanos e britânicos. Analisa-se a guerr

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