Dirigente sindical acusa Globo de fraudar leis trabalhistas

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Publicado Quarta, 16 de Maio de 2007 às 14:47, por: CdB

Contratar funcionários como Pessoa Jurídica (PJ) é prática comum dentro da TV Globo. Com base nesta informação, passada às autoridades trabalhistas pelo jornalista e ex-repórter da emissora, Rodrigo Viana, em entrevistas concedidas nesta quarta-feira, sindicalistas reavivaram a discussão sobre a Emenda 3. Esta prática trata os trabalhadores como autônomos, e faz com que a empresa não tenha nenhuma responsabilidade em garantir direitos trabalhistas previstos na Constituição aos seus funcionários, como 13º salário, férias, seguro-desemprego, entre outros.

Esta é uma das discussões que envolvem a polêmica Emenda 3 - projeto de autoria do ex-senador Ney Suassuna (PMDB), aprovada no Congresso Nacional e depois vetada pelo presidente Lula. O veto à Emenda mobilizou sindicatos e trabalhadores na semana do 1º de maio. Durante a mesma semana, uma série de seis reportagens foi veiculada pela emissora Globo, em que o desemprego e baixo crescimento econômico são relacionados à manutenção da Consolidação às Leis do Trabalho (CLT). Em entrevista, o editor da revista Debate Sindical e integrante do diretório nacional do PCdoB, Altamiro Borges, declara que a Rede Globo é hoje a principal defensora da flexibilização dos direitos trabalhistas.

- O que representa esta série da emissora, em plena semana de mobilizações das centrais sindicais?

- A Globo hoje, é a principal defensora dessas bandeiras de flexibilização trabalhista, Reforma da Previdência. Ela é, e está muito identificada com aquilo que se chama de Consenso de Washington [conjunto de medidas para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento]. E a série - que foi composta de seis artigos - é uma série extremamente venenosa, muito bem feita, mas que tenta jogar o pequeno e médio comerciante contra os trabalhadores registrados, que tenta jogar quem está na informalidade contra quem está registrado. É uma série de defesa da precarização trabalhista.

- Tal postura faz parte da história da emissora?

- A TV Globo nasceu com o golpe militar de 64, a partir de um acordo feito com uma empresa estrangeira, a Life, e com o apoio do regime militar. A Globo enriqueceu nisso. Cresceu, formou um império, têm alta qualidade. Mas a Globo sempre esteve identificada com bandeiras anti-trabalhistas. Mesmo no processo de redemocratização você vai ver qual foi a postura da Globo na Constituinte, sempre foi contra os direitos trabalhistas. Depois ela inventou um candidato, o caçador de Marajás, o Collor. Ela inventou. E, por acaso, ele era dono da subsidiária da Globo em Alagoas. Depois deu apoio direto a Fernando Henrique Cardoso. Então, a Globo tem esses compromissos. É um compromisso de classe. A Globo não nega a classe.

- Esta mesma postura conservadora justifica o ataque que ela tem feito às propostas de criação de uma TV Pública?

- Sem sombra de dúvida. Você quer deixar a Globo nervosa, é só dizer que vai democratizar a informação no Brasil. É você dizer que vai ter TV Pública, controlada pela sociedade e com gestão autônoma. É dizer que vai rediscutir a distribuição das verbas publicitárias, porque só a Globo recebe 56% da verba publicitária no Brasil. De um R$ 1,5 bilhão que foram de publicidade no ano passado, a Globo recebeu 56% do setor de televisão. Então você discutir redimensionamento de verba publicitária, abertura de um canal público controlado pela sociedade. Isso é matar a Globo de nervo. A Globo teme qualquer democratização da mídia.

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