Denúncia: Empresas têm lista negra para excluir trabalhadores

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Publicado Terça, 10 de Setembro de 2002 às 09:18, por: CdB

Retrato do Brasil: trabalhadores na lista negra A "Folha" de domingo (8) traz a chocante revelação de que empresas em quase todos os Estados estão compartilhando listas negras de trabalhadores que são barrados dos empregos, depois de terem entrado na Justiça contra uma delas. As listas negras de trabalhadores tornaram-se prática rotineira, disseminada em todo o País, em todos os tipos de empresas, e em todos níveis funcionais, atingindo desde bóias-frias, colhedoras de laranjas, até executivos de grandes empresas. Até mesmo autônomos, como taxistas de frota, são colocados em listas negras pelos donos das frota, quando reclamam das condições de trabalho. Nessa listas, a vítima é classificada como "perigosa", "desobediente" e "criadora de caso". Um cartel político-ideológico O Ministério Público (MP) conduz 182 investigações sobre empresas que se valem de listas negras. O sistema funciona como um verdadeiro cartel para exclusão dos trabalhadores com mais consciência e espírito de luta. Foi do MP que vieram as principais informações da reportagem de Fátima Fernandes e Claudia Rolli, que começa na página de abertura (B1) do caderno "Dinheiro" de domingo e se estende pelas páginas B3 e B4. Algumas empresas tinham essas listas em seus computadores. Em Campinas, os procuradores apreenderam material de publicidade de uma empresa que vendia as listas, como o Serasa faz e vende as listas de inadimplentes para os bancos. Até parentes de reclamantes da Justiça do Trabalho foram colocados em listas negas. A outra face do neoliberalismo O folheto de propaganda da começa com a seguinte frase, em destaque: "É sabido que a CLT é extremamente paternalista à classe trabalhadora". Acusa trabalhadores e advogados trabalhistas de usarem artimanhas e se empregar com o objetivo principal de "adquirir direitos trabalhistas". E termina com a seguinte proposta: "fornecer exclusivamente às diretorias das empresas associadas (mediante senha) as informações de trabalhadores que tiveram seus nomes envolvidos em reclamações trabalhistas". As listas são a negação das leis trabalhistas e do princípio geral do direito de todos à Justiça. Mas esse tipo de ação só é possível no contexto do clima ideológico criado pelo neoliberalismo, que acusa a CLT de atrasada e condena os direitos trabalhistas como um "custo Brasil." A antítese do jornalismo de dossiês As duas jornalistas parecem ter contado com a ampla colaboração de procuradores da Justiça do Trabalho de várias cidades. Mas em contraste com o jornalismo de dossiês, tão apreciado pela "Folha", as duas repórteres fizeram também investigação autônomas, entrevistando vítimas e advogados. A principal diferença em relação ao jornalismo de dossiês está na sua intencionalidade. O jornalismo de dossiê tem a intenção de favorecer um grupo político, na disputa eleitoral ou uma fração empresarial, em detrimento de outra, numa disputa por mercado ou por favores do Estado. A reportagem sobre as listas negras tem como objetivo servir o público a sociedade como um todo. Lista negras e macartismo Nas empresas jornalísticas sempre houve listas negras. Inclusive na "Folha de S.Paulo", que publicou esta matéria chocante. Mas as listas negras das empresas de comunicação não são vendidas por empresas de bancos de dados, porque sua origem não estão nas reclamações por direitos trabalhistas. Estão sim em gestos de resistência ou inconformismo frente à censura, manipulações e restrições aos direitos de opinião e dever de dizer a verdade dos jornalistas. São mais parecidas às listas negras do macartismo, que vigoraram nos Estados Unidos nos tempos mais agudos da guerra-fria. A vida dura do jornalista competente Muitos profissionais não são contratados apenas porque são competentes, já que no jornalismo a competência é um requisito ético. O jornalista não pode ser ético, se não for competente, se não apurar corretamente os fatos, não for cuidadoso e preciso na organização da informação, se não souber co

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Edição digital

 

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