Crítico da modernidade acredita no sucesso do governo de Lula

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Publicado Sexta, 08 de Novembro de 2002 às 21:55, por: CdB

Autor de Crítica da Modernidade, entre outras obras literárias traduzidas na maioria dos países do mundo, o sociólogo Alain Touraine, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, França, lembrou que, há dois anos, comentou com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que o seu melhor sucessor seria Luiz Inácio Lula da Silva. Touraine esteve no Rio, nesta segunda-feira, para receber o título de doutor honoris causa da Universidade Candido Mendes, junto com FH e o ex-presidente de Portugal, Mário Soares. Entre um e outro belisco no sushi servido após a solenidade, no Centro do Rio, o sociólogo analisou a situação política da América Latina e confessou seu temor pela degeneração da democracia na Argentina. Mas, em relação ao Brasil, diz-se "extremamente otimista" com o futuro do novo governo. Aos 75 anos, o pensador há tempos mexe com os conceitos - e preconceitos - políticos de seu país. Foi um dos primeiros intelectuais franceses a aplaudir, ano passado, a eleição do prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, tanto por ele admitir publicamente a homossexualidade, quanto por ser um socialista, e conquistar a administração de uma cidade tradicionalmente de direita. Sem deixar de admirar a beleza do Rio, que vislumbrava do 44º andar da torre no número 10 da Rua da Assembléia, o recém-diplomado doutor não poupou críticas às distâncias abissais que separam ricos e pobres no Brasil. Ainda assim, Touraine faz questão de ressaltar os esforços do colega - que encerra em 1º de janeiro do ano que vem a sua última passagem pelo governo brasileiro - na tentativa de diminuir o fosso que separa incluídos e excluídos da riqueza nacional. - Quais são suas primeiras impressões diante da presença do ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República do Brasil? - A verdade é que, há tempos, uns dois anos mais ou menos, disse uma vez em Brasília ao Fernando Henrique: "o melhor sucessor para você seria o Lula". Antes e durante a campanha, publiquei vários artigos na imprensa francesa nos quais defendi o que chamei de "Aliança Cardoso-Lula". É uma aliança entre dois homens igualmente conscientes da necessidade de manter uma união estreita entre a defesa das instituições democráticas e os anseios da sociedade brasileira, que cada vez mais está consciente de suas necessidades, abandonando as estupidezes do passado e enfocando cada vez mais a necessidade de atacar os problemas sociais do país. - E houve, na sua opinião, algum esforço consistente no sentido de se reduzir as desigualdades sociais no Brasil? - Na minha opinião, não se divulgou suficientemente que o Brasil, no período Cardoso, alcançou metas importantes na direção da igualdade social, a despeito da opinião pública, que considera o seu governo social-democrata, de direita como se diz, e mais preocupado com os movimentos do mercado de capitais do que com os desafios na área social. É possível perceber, em nível mundial, um desgaste da social-democracia e do welfare state. Nós observamos que a distribuição da riqueza não se faz em proveito dos mais pobres. E, como tal, as desigualdades aumentam. Ainda assim, dados importantes, que marcam a posição do Brasil como um país subdesenvolvido, a exemplo da imensa mortalidade infantil, já não existem mais. Este fato será decisivo para se analisar, no futuro, o período Cardoso no Brasil. - E que defeitos, então, o senhor vê no governo que termina? - Digamos que o fracasso de Cardoso foi não ter conseguido realizar uma reforma política há mais tempo. Mas em nenhum país latino-americano, tampouco no México, onde o sistema democrático é forte e a presidência é exercida por Vicente Fox Quesada, um profissional respeitado mundialmente, a passagem de um sistema social-democrático para outro, mais voltado à solução das desigualdades sociais, aconteceu na última década de forma tranqüila. Agora, com esse "acordo" entre Cardoso e Lula, vejo o Brasil como um país preparado pa

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