Crise migratória: ONU adverte que bloqueio de fronteiras vai provocar caos e confusão

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Publicado Terça, 23 de Fevereiro de 2016 às 08:58, por: CdB

 

O tráfego na mesma região também foi dificultado pela introdução de um controle mais rígido de documentos para sírios e iraquianos

  Por Redação, com ABr - de Lesbos/Berlim/Genebra:   O “bloqueio crescente” de fronteiras europeias vai provocar “mais caos e confusão”, advertiu hoje o alto-comissário da Organização das Nações Unidass (ONU) para os Refugiados, Filippo Grandi, durante uma visita ao centro de registro de Lesbos, principal porta de entrada de migrantes na Europa. – Estou muito preocupado com as notícias sobre um fechamento crescente de fronteiras europeias ao longo da rota dos Balcãs porque isso vai criar mais caos e confusão e, muito provavelmente, aumentar os fluxos irregulares – disse.
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Milhares de refugiados aguardam do lado grego da fronteira com a Macedônia que, no domingo, anunciou o bloqueio de suas fronteiras para refugiados afegãos
A declaração de Grandi é uma reação à decisão anunciada no domingo pela Macedônia de recusar passagem aos afegãos em sua fronteira com a Grécia, bloqueando milhares de pessoasque pretendem seguir para a Europa central e do norte. O tráfego na mesma região também foi dificultado pela introdução de um controle mais rígido de documentos para sírios e iraquianos. “Isso vai aumentar o fardo da Grécia, que já assume uma responsabilidade muito pesada e criar desordem nos países que recebem migrantes e refugiados em um momento em que ainda não há alternativas para a gestão dos fluxos migratórios", acrescentou o representante da ONU. – O programa europeu de relocalização ainda é muito limitado e o programa de reinstalação na Turquia ainda não começou – explicou Grandi. “Assim, fechar fronteiras ou geri-las de forma rigorosa na ausência de alternativas legais e seguras para os refugiados vai aumentar o caos e muito provavelmente aumentar os movimentos irregulares que põem as pessoas em risco”, disse. Segundo números divulgados nesta terça-feira pela Organização Internacional das Migrações (OIM), mais de 100 mil pessoas chegaram à Europa através do Mediterrâneo desde 1° de janeiro, a esmagadora maioria pela Grécia.

Refugiados

O diretor executivo da Agência Europeia de Gestão de Fronteiras (Frontex), Fabrice Leggeri, previu nesta terça-feira que continuarão a chegar em massa à Europa refugiados e requerentes de asilo, já que as razões que os levam a fugir dos seus países se mantêm. Leggeri apontou a guerra civil na Síria - país de origem de 40% das pessoas que atualmente pedem asilo na Europa - e as dificuldades econômicas e políticas nos Balcãs e em "muitos países da África" como as razões geopolíticas para a sua previsão. – Os prognósticos são sempre difíceis – admitiu o representante da Frontex, acrescentando que se o número de migrantes este ano for igual ao de 2015, então 2016 será "um ano mau". O diretor concedeu entrevista em Berlim sobre a situação atual da Europa diante da crise de refugiados. – O desafio continuará – afirmou, referindo-se ao maior fluxo de refugiados no Continente Europeu desde a 2ª Guerra Mundial, que só no ano passado ficou em mais de 1 milhão de pessoas.

Mais de 100 mil imigrantes

Desde 1º de janeiro, 102 mil pessoas chegaram à Grécia e 7.507 à Itália, acrescentou a organização. – Atingimos este número em dois meses – disse um porta-voz da OIM, Itayi Viriri, destacando que, em 2015, a marca dos 100 mil só foi atingida em junho. Das 413 pessoas que morreram durante a travessia, a maioria, 312, afogou-se na rota do Mediterrâneo oriental, entre a costa da Turquia e as ilhas gregas. À Grécia chegaram, só em fevereiro, mais de 35 mil refugiados e migrantes, 48% procedentes da Síria, 25% do Afeganistão, 17% do Iraque, 3% do Irã e 2% do Paquistão. Os restantes 5% provêm de Marrocos, Bangladesh e da Somália, entre outros países. Na Itália, em contrapartida, durante fevereiro “foram registrados vários dias sem a chegada de migrantes, devido às duras condições do mar”. Só num dia, segunda-feira passada, 940 pessoas foram resgatadas no Canal da Sicília. A maioria dos migrantes que chega à Itália é proveniente da África, Marrocos, Guiné-Conacri, Senegal, Gâmbia, Nigéria ou Somália, entre outros países. – Continuamos a registrar a chegada de muitos imigrantes vulneráveis, geralmente em más condições e que foram vítimas de violência por parte dos traficantes. Também há muitas mulheres vítimas de tráfico, uma tendência alarmante que já observávamos em 2015 – explicou o porta-voz da OIM na Itália, Flavio Di Giacomo.
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