Brian Whitaker, do Guardian (brian.whitaker@guardian.co.uk), um dos mais importantes jornais do mundo, faz aqui uma breve e interessantíssima análise da cobertura feita pela mídia internacional dos conflitos em Israel e na Palestina. Ele mostra como a escolha de certos verbos e construções gramaticais acabam criando um quadro interpretativo totalmente tendencioso e unilateral (no caso, os palestinos são sempre descritos como aqueles que "atacam" e os israelenses como os que "respondem", como se bastasse os palestinos deixarem de "atacar" para que a paz voltasse a reinar na região). A mídia quase nunca ressalta, por exemplo, que a ocupação ilegal das colônias israelenses está na raiz do conflito, assim como descreve de maneira totalmente arbitrária os cenários do conflito: "Uma notícia descreve Hebrom como "uma cidade dividida", quando, de fato, 99.8% dos seus habitantes são árabes. (Jerusalém, por outro lado – com dois terços da população judaica e um terço de árabes – é constantemente descrita pelos israelenses como "(não-dividida)." Vamos ao texto: "Uma história rotineira do Oriente Médio: "Palestinos lançaram pela madrugada três bombas contra a colônia habitacional Eile Sinai no extremo norte da Faixa de Gaza. As tropas israelenses responderam com bombardeios de tanques, destruindo um posto de fronteira palestino e atingindo duas casas". Essa notícia, que acaba de sair na BBC, é familiar não somente pelos eventos que descreve, mas também pela maneira como os descreve: os palestinos atacam e os israelenses "respondem". Ações militares por parte dos israelenses são sempre “resposta” a alguma coisa, mesmo quando eles atacam primeiro. Se não foram efetivamente atacados, é uma "resposta" a ameaça a sua segurança. 'Resposta' é uma palavra muito útil. Fornece uma razão pronta para as ações israelenses e elegantemente descarta demandas por maiores explicações. Diz: 'Não nos perguntem por que fizemos isso, perguntem à outra parte'. A questão não é culpar os israelenses pelo uso desse expediente; a questão é se os jornalistas deveriam deixar que ele moldasse suas notícias do conflito. Representar o conflito como uma série de ações palestinas e de respostas israelenses é perigoso por várias razões. Primeiro, reforça o argumento israelense de que tudo ficará bem somente se os palestinos encerrarem sua violência. Isso poderia ser verdadeiro para muitos israelenses, mas não para os palestinos. Segundo, isso incide – através de repetição constante – em um quadro enganoso do conflito como um todo. A violência não é uma série de ações e reações discretas, mas um ciclo (ou espiral) no qual as ações de ambos os lados alimentam-se mutuamente. Terceiro, enquanto as ações israelenses são noticiadas como uma “resposta” que se auto-justifica, as ações dos palestinos raramente são situadas dentro do contexto correto ou atribuídas a um motivo compreensível. Obviamente, há um limite para o que pode ser dito no relato de uma notícia de 300-400 palavras, e alguns jornalistas argumentarão que seu ofício principal é noticiar os eventos do dia, não explicar seu contexto. Mas não estou sugerindo que eles deveriam transformar suas notícias numa conferência de história; apenas que deveriam pelo menos sugerir num contexto e num reconhecimento mais amplo que os palestinos podem Ter algumas queixas legítimas. Fazer isso não é difícil nem representa desperdício de palavras. Alguns informes das agências de notícias, por exemplo, costumam fazer habitualmente uma referência de seis palavras à 'luta palestina contra a ocupação israelense'. A ocupação israelense jaz na raiz do conflito – e ainda assim, na maioria dos casos, os jornalistas esquecem de lembrá-la a seus leitores. O arquivo eletrônico de notícias do jornal The Guardian contém todos os fatos nacionais do dia-a-dia, inclusive do The London Evening Standard. Uma pesquisa nele revela 1.669 notícias publicadas durante os últimos 12 mese
Rio de Janeiro, Sexta, 19 de Abril de 2024
Conflito no Oriente Médio chega distorcido ao público por causa da mídia
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Publicado Segunda, 10 de Setembro de 2001 às 12:41, por: CdB
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