Condições estruturais do crescimento

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Publicado Sexta, 05 de Dezembro de 2003 às 07:50, por: CdB

Na atual conjuntura de grave restrição externa, a elevação sustentada da taxa de crescimento da economia - acompanhada do aumento simultâneo do investimento e do saldo comercial - só pode ser alcançada se o ritmo de expansão das exportações for maior do que a velocidade em que avançam as importações.

O País marcou passo no que se refere à sua pauta de exportações, concentrando as receitas nos produtos cujas vendas crescem menos quando a demanda externa aumenta (commodities agrícolas e industriais) e tornando as exportações mais dependentes de mercados e países (América Latina) que estão encalacrados na recessão e em problemas graves de financiamento do balanço de pagamentos.

A desvalorização cambial vai, é claro, melhorar o lucro dos exportadores e permitir uma concorrência em preços, mas o real mais fraco não estimula necessariamente o crescimento do valor das exportações e encarece as importações.

Muita gente esquece, além disso, que as dificuldades vão além do estímulo à produção corrente e à ocupação da capacidade já instalada. A dilaceração de algumas cadeias produtivas pelo "real forte" e a longa estagnação dos investimentos nos anos 80 e 90 só serão reparadas com o aumento imediato e discriminado dos gastos na formação da nova capacidade.
Isso vai exigir uma um esforço de articulação entre as agências públicas de financiamento capaz de estimular o investimento nos setores exportadores e naqueles prontos a substituir importações. Esta política de longo prazo deveria ser deslanchada imediatamente: muitos setores já estão batendo no teto da capacidade instalada, gerando tensões inflacionárias e problemas de balanço de pagamentos.

Sem um esforço para elevar o investimento, as taxas de crescimento sonhadas vão "consumir" rapidamente as "sobras" de capacidade na siderurgia, na petroquímica e em outros insumos, como energia elétrica, e exacerbar os "buracos" nos setores de tecnologia avançada.
O quadro mudaria para melhor se viesse a ocorrer uma nova onda de investimento externo direto estrangeiro, desta vez envolvida na promoção de complementaridade com as redes manufatureiras globais. Isto significa desenhar caminho de expansão da economia em que o investimento e as exportações comandam o espetáculo. O consumo cresce, mas a um ritmo inferior ao do investimento e da renda e abaixo do avanço das exportações.

Mas não se pode deixar de registrar: economia mundial está diante de capacidade de oferta excedente em quase todos os setores e isso vão tornar ainda mais acirrada a conquista de mercados.

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e editor da revista Carta Capital.

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