Companheiros de luta contra a ditadura saem em defesa de José Dirceu

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Publicado Segunda, 22 de Outubro de 2012 às 09:45, por: CdB
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Na reta final do julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal, diante de uma possível condenação do ex-ministro José Dirceu na Ação Penal 470 ex-presos políticos exilados com o então líder estudantil no México e, depois, em Cuba saem em defesa do velho companheiro. Eles aparecem lado a lado na histórica foto de 6 de dezembro de 1969, no auge da ditadura militar, quando Dirceu e outros 12 foram trocados pelo embaixador norte-americano sequestrado Charles Elbrick. Depois de mais de quatro décadas, recebem com pesar a possibilidade de vê-lo novamente preso, agora em pleno regime democrático. – Dirceu é inocente, aquilo não tinha nada a ver com ele – diz o ex-deputado Vladimir Palmeira, defendendo "absoluta ausência de provas" para condenar o antigo companheiro e amigo. Palmeira deixou o PT em junho de 2011, em protesto pela reintegração do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, pivô do mensalão, à legenda seis anos após ser expulso por envolvimento no escândalo. Ele disse ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, que o PT age como um "partido autocrático, acima da lei", concorda que houve caixa 2, mas poupa Dirceu. – Era evidente que o Delúbio tinha culpa, no processo está claro. Mas quem conhece bem o PT, quem conviveu ali, sabe que o Delúbio nunca foi ligado ao Dirceu – diz, chamando de "piada" a acusação de formação de quadrilha contra o ex-ministro da Casa Civil pelo ministro Joaquim Barbosa. Palmeira acredita que José Dirceu foi vítima de uma "ampla campanha para desestabilizar o governo do PT" e que "os juízes (do STF) sem dúvida foram envolvidos numa atmosfera política da grande imprensa e da opinião pública". Para ele, condenar Dirceu como chefe de quadrilha mostra que a democracia - a mesma democracia que os dois amigos dizem ter ajudado a conquistar - "tem erros". O jornalista e escritor Flávio Tavares, outro companheiro da época, diz-se decepcionado com a degradação política brasileira, da qual Dirceu seria um "bode expiatório": – O 'mensalão' (como foi chamada a AP 470) é o fato mais gritante, mas não é o único. E os que exigiram ser subornados para integrar a base 'alugada' do governo? Eram de vários partidos! Durante a ditadura tínhamos dois partidos e eleições nas capitais, o mesmo simulacro político que existe hoje, em que os partidos operam por pequenas vantagens e a política é feita visando às eleições. Isso não é democracia, mas partidocracia. O jornalista encontra no antigo companheiro de lutas contra o regime militar a mesma coragem com a qual enfrentaram a ditadura. Naquele 6 de dezembro de 1969, na base aérea do Galeão, no Rio, antes de serem trocados por Elbrick e partirem para o exílio no México, Tavares cochichou aos ouvidos dos colegas presos políticos que mostrassem as algemas. Somente José Dirceu o fez. – Depois disso, a grande mostra de coragem do Dirceu foi ele voltar ao Brasil clandestino em 1972, quando nenhum de nós ousou voltar. Era a morte – lembra. Flávio Tavares ressalta, ainda, que Dirceu "se sacrificou em 2005 ao renunciar para não prejudicar o presidente Lula. Ele blindou o governo do PT em pleno tiroteio e, assim, assumiu toda a responsabilidade sobre o escândalo. Foi um ato de extrema coragem", diz. Para José Ibrahim, dirigente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e um dos 13 presos políticos na foto com Dirceu, o companheiro e amigo vive "um linchamento político". – Vejo tudo isso com enorme tristeza, mas isso faz parte da política. O Zé (José Dirceu) fez um jogo muito arriscado e está sendo julgado por isso, mas vai saber levar mais essa fase com dignidade, como sempre o fez – afirmou. O ex-deputado pelo PT Ricardo Zarattini, outro ex-preso político e ex-funcionário de Dirceu na Casa Civil, também defende o amigo: – Chamá-lo de chefe de quadrilha é inadmissível.
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