Às vésperas do início do plantio de soja em Mato Grosso, que marca a largada da safra nacional, produtores nas principais regiões do Brasil têm vários motivos para ampliar a área semeada com a oleaginosa em 2009/10, o que resultaria em uma produção recorde de mais de 60 milhões de toneladas, de acordo com agricultores e analistas.
Entre as razões estão os baixos estoques brasileiros de soja, a demanda da China continuamente forte, os preços do milho e do algodão frágeis, permitindo avanço da oleaginosa com custos mais baixos em áreas dessas culturas, e a tradicional liquidez do principal produto do agronegócio do país, que colheu 57 milhões de toneladas do grão em 08/09.
O recorde de produção de soja no Brasil foi obtido na safra 2007/08, com 60 milhões de toneladas.
Mas há um porém, além do câmbio, um fator negativo já rotineiro para a agricultura brasileira: os Estados Unidos devem colher em 09/10 uma safra recorde de mais de 88 milhões de toneladas, e a Argentina, terceiro produtor global atrás dos EUA e do Brasil, também pode ter uma grande colheita, o que limitaria um avanço maior da produção nacional.
– O milho está com um cenário muito ruim, os preços abaixo dos custos de produção... Já a soja, apesar da perspectiva de preços mais baixos, porque vai ter uma grande produção mundial, o produtor está apostando, ela ainda dá uma rentabilidade – afirmou a economista Gilda Bozza, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), segundo maior Estado produtor no país.
Pela primeira estimativa do governo paranaense, se o clima ajudar, o Estado poderia colher uma safra recorde superior a 13 milhões de toneladas, com os produtores deixando o milho de lado na primeira safra, para plantá-lo na safrinha (inverno).
Segundo estudo da Faep, a soja está entre os únicos três produtos agrícolas do Paraná que não apresentou queda de preço entre janeiro e agosto deste ano, subindo 4% na comparação com o mesmo período do ano passado, apesar da crise internacional.
Atualmente, é possível "comprar" quase três sacas de 60 kg de milho com uma de soja no Paraná.
– Quando a relação é acima de duas sacas, é favorável à soja – destacou Gilda, comentando o aumento de mais de 250 mil hectares no plantio da soja no Paraná, previsto pelo governo.
Nesta sexta-feira, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) elevou a sua estimativa de safra de soja do Brasil em 2 milhões de toneladas, para 62 milhões, citando um crescimento de soja em áreas de milho.
Na próxima terça-feira, termina em Mato Grosso o chamado "vazio sanitário", que delimita o período que proíbe o plantio de soja no maior produtor do Brasil, com vistas a prevenir o ataque da ferrugem asiática.
E com um bom regime de chuvas neste ano, a semeadura poderá dar largada na semana que vem em Lucas do Rio Verde e Sapezal, os dois municípios mato-grossenses que primeiro põem as plantadeiras para funcionar na safra de verão do Brasil.
Preliminarmente, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), ligado aos produtores, prevê um aumento de 150 mil hectares para o plantio de soja em Mato Grosso, embora alguns agricultores mantenham cautela.
– A área que está prevista para aumentar é em virtude da redução da área de algodão, que vai se reverter para a soja. Tem também alguma área ou outra de pastagem que está sendo incorporada para a agricultura – afirmou Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja).
– Agora, tem uma incerteza grande em relação ao preço futuro da soja, há uma expectativa ruim (pela grande safra dos EUA), e pode ser que alguns produtores revejam alguma área ou outra – acrescentou ele, lembrando que é de "apenas" 20% o percentual da safra futura já comercializada antecipadamente com preços travados.
De qualquer forma, o Mato Grosso, na safra de verão, não tem grandes alternativas à soja, e o algodão está em piores condições do que a oleaginosa --em 08/09, o Estado produziu quase 18 milhões de toneladas do grão.
RS
– Nos últimos quatro anos, eu estive pessimista sobre a capacidade do Brasil de aumentar a produção de soja. Para 2010, eu estou otimista com a capacidade da América do Sul de elevar a safra – disse o analista Kory Melby, em Goiás, que acredita em uma safra nacional entre 62 e 63 milhões de toneladas, lembrando que a temporada 08/09 tinha potencial para 61 milhões milhões, não fosse a seca no Sul.
No Rio Grande do Sul, a soja também deverá ganhar área de milho, segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto.
– Os preços do milho não reagiram, persiste a posição de uma migração do plantio para a soja por conta da não solução por parte do governo de políticas compatíveis com custo de produção – destacou Sperotto, lembrando que os produtores estão "estocados" com milho.
Ele disse, no entanto, que as dívidas do setor ainda limitam uma safra maior de soja.
– Não existe numerário para fazer um bom plantio, há contratos (de financiamento) não quitados – acrescentou, fazendo referência ao fato de muitos produtores não poderem acessar novas linhas oficiais de crédito enquanto não resolverem pendências anteriores.
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
Com plantio próximo, produção de soja caminha para safra recorde no Brasil
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Publicado Sábado, 12 de Setembro de 2009 às 12:22, por: CdB
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