Carta sobre as tecnologias de convivência com o semiárido

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Publicado Terça, 28 de Fevereiro de 2012 às 08:59, por: CdB

CPT CEARÁ REALIZA SEMINÁRIO INTERNO SOBRE TECNOLOGIAS SOCIAISAPROPRIADAS AO SEMIÁRIDO E REAFIRMA SEU COMPROMISSO COM AS AÇÕES DE CONVIVÊNCIA

Foto:Thiago Valentim/CPT CE

No dia 23 defevereiro de 2012, em Fortaleza, 18 agentes da CPT Ceará realizaram umseminário interno com o objetivo de direcionar um olhar crítico para asestratégias de convivência com o semiárido, a fim de fortalecer sua atuaçãojunto aos camponeses e camponesas.

O semináriopossibilitou um debate sobre as ações de convivência realizadas pela CPT Ceará,diretamente ou em parceria, trazendo presente os desafios enfrentados noprocesso de implementação das mesmas, a situação das famílias e comunidadesbeneficiárias dos projetos e as perspectivas para o futuro.

Um olhar especialfoi direcionado ao Projeto Mandala, desenvolvido pela CPT nos anos de2004-2005. Com alegria, constatamos que a maioria das mandalas implantadasainda está produzindo. Algumas estão desativadas por problemas deinfraestrutura, como a dificuldade de transpor a água para o tanque da mandalapela falta de motores mais potentes. Outra dificuldade constatada a foiausência de acompanhamento, principalmente pela falta de recursos. Porém, amaioria das famílias tem encontrado caminhos, fazendo parcerias, ocupando espaçosque possibilitam continuar produzindo, primeiramente para o consumo familiar e,em seguida, para a comercialização do excedente.

As Mandalas são umareferência para a soberania alimentar. Contatamos que, além da melhora naqualidade de vida dos beneficiários diretos e indiretos, pela produção dealimentos de qualidade e a geração de renda, as Mandalas colaboram nofortalecimento dos laços familiares e comunitários, na valorização e autonomiadas mulheres e reafirma a identidade camponesa nas famílias. Implantadas apartir dos princípios da agroecologia, são responsáveis pela criação demicro-climas, que possibilitam a sobrevivência de diversos seres vivosresponsáveis por manter o equilíbrio natural do meio, gerando cuidado com anatureza, uma produção qualificada e a promoção da saúde. Constatamos ainda queas mandalas implantadas pela CPT têm sido referência para outros projetos nascomunidades e para uma educação contextualizada, pois as famílias beneficiáriasrecebem constantemente a visita de diversos grupos, entre eles de alunos daregião, para intercâmbios diversos.

O Seminárioreafirmou ainda a necessidade de fortalecer as lutas pelo acesso à Terra e àÁgua, como elementos necessários para o êxito do processo de convivência com osemiárido.

Avaliando oSeminário como muito positivo, com um debate maduro, a CPT Ceará assumiu algunscompromissos:

* Fazer parceriascom Agentes Comunitários de Saúde e líderes da Pastoral da Criança paradifundir e fortalecer os quintais produtivos e outras experiências deconvivência nas regiões onde atuam;

* Investir emhortaliças tradicionais;

* Fortalecer emultiplicar as casas de sementes crioulas, valorizando e incentivando também oarmazenamento das sementes tradicionais em cada família;

* Realizar estudosbíblicos a partir da ótica camponesa;

* Viabilizar arealização de estudos de aprofundamento do bioma caatinga e do semiárido.

Atenta aos últimosacontecimentos em que o processo de convivência com o semiárido desenvolvidopela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) foi ameaçado pela decisão do MDSde romper com a parceria e na insistência do governo e empresas de continuarcom a implantação de cisternas de plástico nas comunidades camponesas do semiárido,a CPT Ceará, também membro da ASA, lança carta de compromisso com asalternativas de convivência e expressa sua posição contrária a todo projeto quevise ressuscitar a velha "indústria da seca".

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CARTA DA CPT CESOBRE AS TECNOLOGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

A Comissão Pastoralda Terra do Ceará, reunida no dia 23 de fevereiro de 2012 em Fortaleza, numSeminário sobre as tecnologias sociais de convivência com o Semiárido, vem apúblico manifestar sua posição diante da necessidade e importância das ações deconvivência com este clima.

O semiárido não ésomente um clima, mas um povo, com culturas diversas, que busca viver de formaharmoniosa com a natureza. Há, no entanto, problemas históricos que ameaçam aqualidade de vida das populações do semiárido, como a concentração da Terra edas águas, respaldados por políticas que privilegiam as grandes corporações eempresas privadas.

Uma experiência bemsucedida da sociedade civil organizada é a Articulação do Semiárido (ASA), quedesenvolve, junto às comunidades camponesas, as ações do P1MC e P1+2 com umametodologia participativa, integrada com as pessoas e o seu meio e, através dosFóruns Estaduais e Microrregionais, compromete-se com o debate sobre um projetosustentável para o semiárido e a implementação de ações que favoreçam aconcretização deste projeto.

A tentativa recentedo Governo de negar todas estas conquistas nesse processo participativo deconvivência, onde o MDS decidiu romper a parceria com a ASA, suscitou fortereação das entidades da ASA, dos beneficiários e parceiros. A ASA, da qual aCPT faz parte, se configura como uma Articulação do Semiárido e não de umEstado ou outro de forma isolada. A grande mobilização ocorrida no dia 20 dedezembro de 2011 em Petrolina–PE, com 15 mil pessoas, reafirmou a importânciadessas alternativas e a capacidade de mobilização das entidades que compõem aASA Brasil, pressionando o Governo Federal / MDS que mantivesse a parceria. Deucerto!

Contudo, um outroprojeto ameaça nosso semiárido: a implantação das cisternas de plástico/PVC.Estas cisternas, além de impactos ambientais e para a saúde, custam o dobro dascisternas de placas, comprometendo o processo pedagógico até aqui construídopela ASA. Reafirmamos a importância das alternativas de convivência, masrepudiamos também aquelas que, mascaradas de benefícios, fazem parte de planosde empresas e governos para lucrarem ainda mais em cima das necessidades dopovo, sendo uma forma de trazer de volta a lucrativa "indústria da seca”.

A CPT, através dopresente documento, reafirma seu compromisso com as lutas em defesa do acesso àTerra e à água de qualidade, onde as populações camponesas possam terassegurado seu protagonismo, fortalecendo e implementando projetos que geremsoberania e sustentabilidade para as famílias camponesas.

Fortaleza, 23 defevereiro de 2012
Comissão Pastoral daTerra do Ceará

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