Britânicos vão às urnas em eleições polarizadas

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Publicado Quinta, 08 de Junho de 2017 às 07:02, por: CdB

Sob a sombra do ataque terrorista em Londres, disputa entre conservadores e trabalhistas tem Brexit como assunto secundário. Comparecimento às urnas é grande desafio para May e Corbyn

Por Redação, com DW - de Londres:

No último dia de campanha das eleições gerais britânicas, a manchete do tabloide de direita não esconde seu posicionamento: "Vote em May ou enfrentaremos um desastre", estampa a capa do jornal Daily Express

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Theresa May (Partido Conservador) e Jeremy Corbyn (Partido Trabalhista) são principais rivais na disputa

A primeira página do The Sun diz: "Os companheiros jihadistas de Jezza (diminutivo de Jeremy, em referência ao candidato trabalhista e rival de May, Jeremy Corbyn)". "Apologia ao terror", escreve o Daily Mail com uma foto de Corbyn e seus dois aliados do Partido Trabalhista (Labour) John McDonnell e Diane Abbott.

A questão é qual será o impacto nas urnas do ataque terrorista do último sábado em Londres, que deixou oito mortos e 48 feridos. Quando a primeira-ministra britânica, Theresa May, convocou as eleições gerais em abril. O Partido Conservador tinha cerca de 20 pontos percentuais de vantagem nas intenções de votos sobre o Partido Conservador. Pesquisas apontam que a diferença caiu para três pontos percentuais na reta final da campanha.

– A imprensa pode fazer diferença nas últimas 24 horas. Para serem efetivas, as mensagens de último minuto têm que reforçar o restante da campanha. Os conservadores têm demonstrado forte liderança e destacado o 'extremismo' de Corbyn há muito tempo – diz Matthew Cole, professor de História da Universidade de Birmingham. 

– Parte da atuação dos conservadores tem a ver com mobilizar eleitores (...). A maioria dos leitores doDaily Mail não vai votar em Corbyn. Mas eles talvez precisem ser convencidos a ir votar – acrescenta.

Campanha

Analistas concordam que a campanha foi um sucesso para os trabalhistas depois de dois anos de conflitos internos e quedas nas intenções de voto. A situação ficou mais animadora para o partido com a adesão de novos membros e milhares de pessoas angariando votos de porta em porta.

– Pela primeira vez na minha vida, vou fazer um voto que tem um significado. E potencial para causar uma mudança de verdade – diz a britânica Joanna Smith, que se associou ao Partido Trabalhista em 2015.

Risco de apatia

Apesar de variações significativas, a maior parte das pesquisas indica uma vitória do Partido Conservador. Uma grande questão para o Partido Trabalhista será a participação nas urnas. A maior parte dos apoiadores da legenda é jovem.

– A disputa apertada reflete, de certa forma, a visão histórica de que é baixa a probabilidade de os jovens realmente irem votar – afirma Sophie Gaston, diretora de projetos internacionais no think tankDemos.

Os britânicos votaram em eleições gerais em 2015 e no referendo sobre o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), em 2016. Existe o risco de fadiga e apatia dos eleitores.

– Para mim, ambas as opções parecem ser completamente incompetentes. Sempre votei no Partido Trabalhista, mas o que fazer se você quer políticas progressistas sem nacionalizar tudo? Nunca pensei que ficaria tão desengajado com a política – diz o pesquisador Alia Malhotra, que vive em Londres.

May iniciou a campanha eleitoral com alta popularidade, mas o apoio à primeira-ministra tem caído. "Tendo colocado a credibilidade nela como líder, qualquer falha é particularmente notável", diz Cole, da Universidade de Birmingham. "E as falhas têm sido numerosas, com a sua 'menos que espontânea' maneira de lidar com a mídia, sua falha em não comparecer ao debate e a forma como tratou a controvérsia do amparo social", analisa.

Preocupação com Brexit

May convocou as eleições antecipadas sob o argumento de que precisa de maior apoio para negociar a saída do Reino Unido da UE. Se a líder do Partido Conservador não angariar uma quantidade expressiva de votos, ela corre o risco de enfrentar dissidências no seu próprio partido.

– É pouco provável que May não seja a próxima primeira-ministra, mas a posição em que ela se encontrar e o tipo de autoridade que poderá reivindicar vai depender da escala da vitória – analisa o professor.

As últimas semanas têm sido difíceis para os conservadores, que entraram na campanha certos de uma vitória expressiva. "Os eleitores não vão esquecer a mancha na reputação dos conservadores em assuntos como financiamento escolar e assistência para idosos", afirma Tom Follett, diretor de políticas e projetos do think tank ResPublica.

– O Brexit não tem desempenhado o papel que May esperava. Sua campanha se baseou em convencer o público de que ela é uma forte negociadora. Isso tem ajudado os trabalhistas, cujos eleitores estavam profundamente divididos sobre o Brexit – diz.

Trabalhistas e conservadores

Enquanto os trabalhistas e conservadores trocam farpas sobre liderança, competência, segurança e gastos, a forma como a saída do Reino Unido da UE vai acontecer virou assunto secundário. Isso preocupa alguns eleitores.

– Metade do país votou contra [o Brexit]. May quer nos jogar no penhasco, e Corbyn parece estar completamente desinteressado – diz o eleitor Jack Smith, de Kent.

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