Brasil patrocinou golpe de Pinochet em 1973 no Chile

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Publicado Terça, 05 de Agosto de 2003 às 14:01, por: CdB

"Ganhamos". Com esta palavra o então embaixador da ditadura militar brasileira no Chile, Câmara Canto, comemorou o triunfo do golpe militar de Pinochet, para o qual tanto ele quanto o governo militar do Brasil haviam trabalhado intensamente. Sabia-se dessa participação, mas somente agora, nas vésperas do 30º aniversário do golpe militar, uma investigação feita pelo jornal chileno La Tercera permite reconstituir em detalhes como se deu a estratégica participação brasileira nesse episódio, que reabre o caso e merece investigação e punição para todos os que foram coniventes com essa criminosa ação.
O longo artigo, publicado no dia 3 de agosto, chamado "A ajuda secreta dos militares brasileiros", afirma que o embaixador Antonio Candido da Câmara Canto era conhecido como "o quinto membro da junta (militar) por suas estreitas relações com o governo militar". Credenciado no Chile entre 1968 e 1975, Câmara Castro estabeleceu estreitas relações com altos membros do Exército e da Marinha e, depois do golpe, foi o primeiro diplomata a reconhecer a Junta Militar de Pinochet, permitindo que a embaixada brasileira coordenasse a entrega de 70 toneladas de remédios e alimentos entre os dias 11 e 26 de setembro como "ajuda humanitária" do governo militar brasileiro, além de utilizar seus contatos para fazer gestões para a obtenção de um crédito de 100 milhões de dólares para o Chile.
Câmara Canto chegou a receber do assessor da Junta Militar Álvaro Puga o reconhecimento: "Era um homem do nosso lado". O embaixador norte-americano no momento do golpe militar, Nathanael Davis, no seu livro "Os últimos dias de Salvador Allende", já havia afirmado que o embaixador brasileiro havia tentado em 1973 aproximar a embaixada dos EUA dos planos golpistas. "Num jantar, o embaixador brasileiro me fez uma série de sugestões (que eu não aceitei), para tratar de me levar a uma coordenação entre embaixadas para um planejamento cooperativo e unir esforços no sentido de provocar a queda de Allende".
Considerado, segundo La Tercera, um exímio cavaleiro e colecionador de arte, Câmara Canto era "profundamente antimarxista", tendo estabelecido uma grande amizade com o general Sergio Arellano Stark, um militar chave no golpe militar e na repressão posterior. Em setembro de 1975 Câmara Canto deixou seu cargo em Santiago do Chile por razões de saúde. Ao coquetel de despedida compareceu o general Gustavo Leigh, membro da Junta Militar, enquanto uma comissão integrada pelos generais Sergio Arellano Stark e Herman Brady foi deixá-lo no aeroporto, quando partiu do Chile. No ano seguinte, Câmara Canto voltou àquele país em visita privada, tendo sido recebido pelo almirante Toríbio Merino, membro da Junta Militar. Quando morreu o governo chileno colocou seu nome numa rua do centro de Santiago.
Conta-se nos círculos diplomáticos chilenos que logo depois do golpe, numa conversa informal, Câmara Canto aconselhou um membro da Chancelaria chilena: "Aproveitem agora para fazer o que eu não fiz no meu país: com os esquerdistas, expulsem todos os homossexuais". Efetivamente, em 1964, diz o jornal chileno, no momento do golpe no Brasil, Câmara Canto havia dirigido uma verdadeira "caça as bruxas", que investigou 35 funcionários de carreira acusados como subversivos ou homossexuais.
O ex-embaixador dos EUA no Chile Edward Korry declarou em 1977, ao Comitê de Relações Exteriores do Senado norte-americano, que ele "tinha motivos para crer que os brasileiros haviam funcionado como conselheiros dos militares chilenos", acrescentando: "O apoio técnico e psicológico do golpe chileno proveio do governo do Brasil". Em 1985, outro ex-embaixador dos EUA no Chile, Nathaniel Davis, afirmou no seu livro que "a conexão brasileira foi confirmada por muitas fontes. La Tercera conseguiu confirmar os rumores de que no final de agosto um emissário civil do almirante Toríbio Merino tomou um avião para São Paulo disfarçado como se fosse uma viagem de negócios, mas levando uma missão secre

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