Binner: "Criamos uma opção para os argentinos"

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Publicado Domingo, 25 de Setembro de 2011 às 01:49, por: CdB

Hermes Binner, descendente de suíços do Cantão do Valais (sudoeste) e primeiro governador socialista da Argentina, é candidato às eleições presidenciais de 23 de outubro.

Depois de ultrapassar nos prognósticos dois "pesos pesados" tradicionais, os analistas o colocam como segunda força, atrás da presidente Cristina Kirchner.

Em plena campanha eleitoral, o suíço-argentino Hermes Binner, governador da Província de Santa Fé e candidato a presidente pela Frente Ampla Progressista (FAP), falou com exclusividade à swissinfo.ch.
 
Considerado pelos analistas e pela imprensa argentina como "a surpresa das eleições primárias" e o opositor que será mais votado nas presidenciais, sua carta de apresentação indiscutível foi a "transparência" durante seus 22 anos de gestão política.
 
A um mês das eleições, Binner se consolida em escala nacional e as sondagens de opinião o colocam segundo lugar, com 20% dos votos, atrás apenas da presidente Cristina Kirchner, com mais de 50%.  
 
"Em cinco semanas de campanha, em que tínhamos que ser conhecidos e demonstrar que as pessoas podiam confiar em nós, juntamos mais de dois milhões de votos, um resultado extraordinário", garante o candidato.
 
"Dia 22 de setembro vamos apresentar publicamente o programa de governo que preparamos com nossas equipes de trabalho da FAP, para contar aos argentinos o que vamos fazer se chegarmos ao governo."

"O espaço urbano como o espaço da democracia"

Com uma personalidade que foge do padrão político tradicional (é reservado, austero, formal, transparente e franco), o governador conseguiu seduzir um eleitorado que, além de pedir bem-estar econômico e social, exige honestidade e transparência.
 
"As pessoas são boas, porém às vezes se perverte em uma sociedade onde a perversão vem de cima para baixo. A mudança da cabeça também tem de ser acompanhada de uma estratégia em que a impunidade seja eliminada e a justiça tenha uma atuação de primeira linha", diz Binner.
 
"Acreditamos que estamos criando uma opção baseada na solidariedade, na participação e na transparência. Fizemos isso em Santa Fé e antes em Rosário e queremos fazê-lo em nível nacional", explica o candidato.
 
"Temos avançado nos aspectos que fazem melhorar a produção e o trabalho e também em todas as questões sociais. Hospitais, escolas, melhor educação e melhor saúde têm a ver com a Argentina que queremos. Sobretudo pensar no habitat e no espaço urbano como o espaço da democracia."
 
Questionado sobre qual seria o papel da frente que lidera, em caso de não vencer as presidenciais e tornar-se a primeira força de oposição, Binner responde: "Continuaremos da mesma forma que temos trabalhado no Congresso: apoiando tudo que for positivo. Com as coisas com as quais não concordamos, apresentamos projetos alternativos. Não nos interessa o pedestal da oposição. Queremos ser uma opção."

Raízes helvéticas

Criado em uma província de imigrantes de natureza produtora – hoje a terceira mais importante do país economicamente – o recém-eleito governador de Santa Fé declarava à swissinfo.ch:
 
"Temos tido ajuda da cooperação suíça na construção de ambulatórios. Também recebemos do governo de Genebra uma colaboração em momentos muito difíceis na Argentina e isso ocorreu porque existe muita identidade quanto às propostas de produção e de trabalho que herdamos de nossos antepassados."
 
Em 25 de junho último, Binner recebeu em Rosário o embaixador suíço Johannes Matyassy, que considerou o encontro muito satisfatório e elogiou o trabalho que se vinha fazendo:
 
"O que ouvi e pude ver durante mina visita é que fe um trabalho muito bom como governador. Não é um homem de grandes palavras nem de show, mas pragmático e quer fazer um bom trabalho. É um pouco como esses suíços de montanha, como são no cantão do Valais."
 
O embaixador acrescentava: "Me pareceu uma personalidade profundamente honesta, sensível e muito comprometida com seu cargo político. Quer o melhor para o povo e não é um ideólogo, é aberto."

Um novo modelo de gestão

Que aspectos da democracia esse candidato presidencial argentino observou a adotou da terra de seus avós?
 
Poderia se dizer que sua política de orçamento participativo, em que os vizinhos opinam e decidem as prioridades de uma parte dos recursos, a tradição do trabalho, a importância da democracia participativa e sua aposta na descentralização para que a cidadania fique mais perto dos governantes.
 
Tudo indica que a velha oposição esteja passando ao terceiro plano, abrindo espaço para essa nova oposição. É o que disse à swissinfo.ch o cientista político e consultor Julio Burdmann:
  
"Binner vai ficar em segundo lugar nas presidenciais. Todas as pesquisas indicam e há razões que o explicam. Do pelotão de opositores, foi ele quem mostrou maior potencial de crescimento. A FAP tem a oportunidade de construir algo mais importante do ponto de vista partidário." 

Norma Domínguez, Buenos Aires, swissinfo.ch
Adaptação: Claudinê Gonçalves

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Edição digital

 

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