São remotas as chances de que o julgamento de Saddam Hussein aconteça ainda em 2004, disse uma autoridade norte-americana à Reuters na sexta-feira. A declaração vai contra às do premiê iraquiano Ilyad Allawi, segundo quem o júri poderia começar as deliberações já em outubro.
Allawi, que pressionou o Tribunal Especial do Iraque a acelerar os procedimentos contra Saddam e seus aliados, disse querer que o tribunal comece no mês que vem, antes das eleições, marcadas para janeiro.
Mas a fonte disse: "Se vocês estão falando de um julgamento de Saddam Hussein em 2004, acho que isso é remoto. É um cronograma muito difícil de cumprir. Trata-se de um período de 25 anos (...) e já é quase outubro".
A fonte faz parte da equipe de norte-americanos que assessora o tribunal.
Integrantes do tribunal argumentam que ele precisa de pelo menos um ano para vasculhar toneladas de documentos e preparar os julgamentos relativos à morte de centenas de milhares de iraquianos. O tribunal foi estabelecido logo depois da queda de Saddam.
O ex-chefe do tribunal, Salem Chalabi, acusou Allawi na quinta-feira de tentar manipular o julgamento para aumentar sua popularidade, planejando julgamentos-espetáculo e execuções.
A autoridade norte-americana disse não estar ciente de tentativas de Allawi de pressionar o tribunal, nem de ações para impedir a investigação de ex-baathistas. Allawi já pertenceu ao partido baathista.
- Ninguém pressionou o tribunal a fazer nada - afirmou.
Ele não quis prever um cronograma para o julgamento de Saddam e seus aliados, mas disse que isso dependerá da amplitude e do número de acusações contra cada um dos réus.
- Pegue, por exemplo, Hassan al-Majid ("Ali Químico"). Ele está envolvido em vários crimes diferentes e em várias ocorrências. Do que vamos acusá-lo? Quantas acusações? São coisas que precisam ser analisadas.
Chalabi, um advogado que estudou nos EUA, foi nomeado por Washington para chefiar o tribunal. Ele acusou o governo iraquiano de derrubá-lo do posto por vingança política, e negou os rumores de que renunciou depois de ser acusado de homicídio.
Saddam e seus aliados estão sendo mantidos sob custódia dos EUA em território iraquiano, em local secreto, sob vigilância de tropas norte-americanas.
A autoridade norte-americana afirmou que a crescente violência está atrapalhando os procedimentos, pois dificulta a ida de investigadores a locais de exumação, por exemplo.
- Estamos falando de vários cenários de massacres, e temos de decidir aonde podemos ir e aonde não podemos.