Astros vendem de tudo no Japão

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Publicado Domingo, 04 de Janeiro de 2004 às 06:29, por: CdB

Imagine Sylvester Stallone fazendo propaganda de presunto, Nicholas Cage promovendo casas de diversões eletrônicas ou o casal Beckham vendendo lubrificante Castrol.  Imagine se puder, porque a menos que você viva no Japão, dificilmente vai ver essas imagens. Por outro lado, se você for japonês, vai precisar apenas ligar a televisão para ver astros ocidentais fazendo os papéis mais constrangedores em comerciais.

Por exemplo, a propaganda em que Sean Connery faz um dueto com um coelho inflável, cantando em japonês, para vender iogurte. Ou aquela em que Leonardo Di Caprio derrota um seqüestrador com a ajuda de uma rolha de champanhe, para uma marca de cartões de crédito.


O público tem um gostinho desse mundo através do filme Encontros e Desencontros estrelado por Bill Murray.  Murray faz o papel de um ator americano sem sorte que vai para o Japão participar de uma propaganda de uísque, seguindo os passos de Mickey Rourke, Sammy Davis Jr. e Sean Connery.  A Japan Market Intelligence, uma empresa que lidera o setor de pesquisa e consultoria em Tóquio, diz que o cachê para esses artistas está entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões. Mas, se por um lado eles ficam felizes em embolsar o dinheiro, por outro, parece que alguns dos astros não gostam que os fãs no Ocidente vejam esses comerciais.

Na era da internet, contudo, fica cada vez mais difícil impedir que isso aconteça.  Alan Soiseth coloca esses comerciais no site Japander. Ele diz que isso é "um pouco de diversão com uma imagem alternativa dessas celebridades". 

Mas nem todas as celebridades concordam com isso. Advogados representando Leonardo Di Caprio e Meg Ryan conseguiram que os comerciais em que seus clientes aparecem fossem retirados do site.  Não é que os ocidentais não estejam habituados a ver astros e estrelas vendendo produtos, mas há algo diferente nessas propagandas do Japão.

É que, para os ocidentais, parece haver pouca ligação entre os astros e os produtos que anunciam no Japão.  O que deu na cabeça dos profissionais de propaganda para associarem Whitney Houston a dicas de investimento? Ou Bruce Willis a uma rede de postos de gasolina?

Além da superfície, contudo, os anúncios japoneses acabam parecendo inteligentes e criativos.  Ringo Starr pode não parecer a escolha óbvia para anunciar uma marca de suco de maçã se você não souber que "ringo" significa "maçã" em japonês.  Celine Dion participou de uma grande campanha para promover uma escola de inglês chamada Aeon, que rima direitinho com o nome dela.

David Kilburn, um editor de finanças que acompanha de perto o trabalho das agências de publicidade e propaganda japonesas há mais de 20 anos, diz que tudo parece meio estranho por causa da forma como o Japão encara o conceito de celebridade.  Kilburn diz: "As celebridades no Japão vivem em um pedestal, então a disparidade entre realidade e o mundo retratado raramente causa problema".

Em outras palavras, ninguém se incomoda se, por exemplo, Harrison Ford bebe de fato cerveja Kirin, desde que ele faça algo inusitado quando está promovendo a cerveja.  Mas não é difícil entender porque Sean Connery, conhecido por suas posições nacionalistas escocesas, quer evitar que seus compatriotas o vejam promovendo uísque japonês.

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