
Os argentinos, que sentenciaram na 6ª feira (27) 18 militares participantes da famigerada Operação Condor, realmente nos aplicaram sonora goleada em termos do tratamento que as nações civilizadas dão às atrocidades ditatoriais. E a presidente afastada ficará na História como a antiga torturada que desperdiçou uma grande e última chance de iniciar a punição dos torturadores no Brasil.
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Os ditadores Videla e Bignone no banco dos réus. Lá. |
“Os crimes de desaparecimento forçado, de execução sumária extrajudicial e de tortura perpetrados sistematicamente pelo Estado para reprimir a Guerrilha do Araguaia são exemplos acabados de crime de lesa-humanidade. Como tal merecem tratamento diferenciado, isto é, seu julgamento não pode ser obstado pelo decurso do tempo, como a prescrição, ou por dispositivos normativos de anistia“.
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Muito blablablá e nenhum torturador encarcerado. Aqui. |
Se o Estado brasileiro aceitasse, relativamente às execuções no Araguaia, o que é praticamente uma obviedade no Direito Internacional –a de que leis de anistia não têm força legal para impedirem o julgamento de assassinatos e torturas perpetrados por ditaduras–, como poderia sustentar posição diferente com relação aos demais assassinatos e torturas cometidos pela repressão política do regime militar?
Lula, oportunisticamente, não tomou decisão nenhuma a este respeito no seu último mês de mandato, legando o abacaxi à Dilma. E esta mandou às urtigas a chance que teve de mandar apurar o banho de sangue no Araguaia não por iniciativa própria (o que provocaria muita grita da extrema-direita), mas cumprindo a determinação de um organismo internacional.
Ignorou olimpicamente tal sentença e, como contraponto propagandístico, criou uma Comissão da Verdade engana trouxas –cuja atuação, vale lembrar, não respaldaria quando dos inevitáveis choques com os empenhados em perpetuar a mentira, a ponto de duas testemunhas importantes terem sido assassinadas de forma suspeitíssima e ficar tudo por isso mesmo.
Enquanto isto, a Argentina vem sentenciando seus gorilas e respectivos paus mandados desde agosto de 2009 e já emitiu mais de 500 condenações à prisão. Agora, espetacularmente, vai punir militares argentinos responsáveis por operações conjuntas com as ditaduras do Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, no sentido de capturarem e/ou assassinarem militantes de esquerda no exílio.
Caso do nosso Joaquim Pires Cerveira, que sobreviveu ao inferno do DOI-Codi/RJ em 1970 (quando fui seu companheiro de cela), mas a ele retornou, para ser morto, no final de 1973, depois de ser capturado em Buenos Aires.
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Universindo Dias e Lilian Celiberti: sobreviventes. |
Em território nacional, o episódio mais famoso da Operação Condor foi o chamado sequestro dos uruguaios (o casal Universindo Dias/Lilian Celiberti e seus dois filhos menores) em novembro de 1978. A imprensa brasileira descobriu rapidamente o ocorrido e denunciou, sem, contudo, conseguir evitar que os quatro fossem despachados para o Uruguai. Mas, a repercussão internacional deve ter contribuído para que todos sobrevivessem.
Resumo da opereta: os argentinos se mostraram hombres e nós, poltrões, permitindo que o nosso país continuasse sendo o asilo dos torturadores reformados.
7×1? Pensando bem, está mais para 7×0…
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.