Argentina lança sua versão do Fome Zero

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Publicado Segunda, 07 de Julho de 2003 às 13:02, por: CdB

Com um duro discurso contra os "pequenos grupos do poder" econômico, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, lançou nesta segunda-feira um amplo plano para combater "a fome mais urgente" de crianças, idosos e mulheres grávidas. O plano, ao qual serão destinados fundos federais de 600 milhões de pesos (213,5 milhões de dólares) até o final do ano, beneficiará com alimentos quatro milhões de crianças, um milhão de idosos e 640 milhões de mulheres grávidas das camadas mais pobres da população. A fome afeta 17,5% dos quase oito milhões de lares argentinos, ou seja, 1,4 milhão de famílias, segundo um relatório do Banco Mundial publicado no último fim de semana pela imprensa local. Néstor Kirchner destacou no discurso que irão participar "todas as organizações populares", sem distinções, para afastar "qualquer tentação de clientelismo, que tanto causa dano às políticas sociais". - Isto marca as prioridades da Argentina em uma verdadeira tarefa de reivindicação e atenção dos mais necessitados - ressaltou Kirchner ao criticar os "pequenos grupos do poder" que exigem uma rápida definição da política econômica do governo. Neste sentido, sustentou que "durante anos" esses setores "estiveram trabalhando pelas costas dos argentinos" e "estão mal acostumados", porque "pedem as políticas econômicas que eles necessitam e querem". - Nunca os escutei falar sobre a grande pobreza, a falta de trabalho e as coisas que acontecem no interior - apontou o chefe do Estado durante a cerimônia de lançamento do plano, à qual assistiram representantes de organizações não-governamentais. - Fiquem tranqüilos, sabemos aonde vamos. Reitero, que não vim para deixar as convicções na porta (da casa do governo), desta vez guiaremos fortemente com nossas convicções - acrescentou. Kirchner destacou que muitas "organizações populares" que não têm "nenhum vínculo" com o governo alcançaram "grandes resultados" em planos próprios de ajuda solidária. O chamado Programa de Nutrição e Alimentação Nacional foi aprovado no mês passado por unanimidade no Parlamento, a pedido de 1,6 milhão de argentinos que apoiaram com suas assinaturas a chamada das organizações de ajuda social para que fosse elaborada uma solução "urgente para a fome" da população pobre. A ministra do Desenvolvimento Social, Alicia Kirchner, irmã do chefe de Estado, disse que o plano "fome mais urgente" faz parte de um programa integral que inclui o desenvolvimento social e econômico e as necessidades das famílias pobres. "Haverá uma rede federal de políticas sociais", explicou ao se referir a "um trabalho em comum" do governo federal com as províncias, os municípios e as organizações não oficiais. Disse que "para evitar o clientelismo político", nas caixas com alimentos para a população carente "não poderá haver nenhum símbolo" que as identifique com as autoridades. Alicia Kirchner, especialista em políticas sociais, ressaltou que os argentinos "devem aprender" com os erros cometidos nesta matéria e comentou que o plano alimentício se conjugará também com o de subsídios que atualmente beneficia quase dois milhões de desempregados. As organizações não-governamentais "farão um acompanhamento" dos planos sociais e participarão junto com as autoridades de "um só conselho consultivo" para todo o país, explicou. O governo procura ordenar os programas sociais que aplicam no país, às vezes com "planos sobrepostos" de diferentes organismos e "despesas significativas" que "impediram que a ajuda chegue onde mais se necessita", destacou. - Pensam que o Estado não é capaz, por isso é fundamental reconstruir a capacidade que o Estado deve ter: é preciso reconstruir a credibilidade - afirmou a ministra. O lançamento do plano coincidiu com a publicação de um relatório elaborado pelo escritório do Banco Mundial em Buenos Aires baseado em uma pesquisa realizada no final de 2002 para medir "se as famílias passaram fome durante algum momento do ano passado

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