Anistia teme maior repressão após morte de Celso Daniel

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Publicado Segunda, 21 de Janeiro de 2002 às 20:56, por: CdB

A Anistia Internacional teme que o seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, no fim de semana, possa servir de pretexto para o aumento da repressão policial no Brasil. "As autoridades estão utilizando os crimes contra políticos nos últimos meses para descrever uma situação de guerra no país. Não vemos essa situação de guerra, mas sim de violência", afirmou Tim Cahill, pesquisador do núcleo responsável pelo Brasil na sede da Anistia, em Londres. "É perigoso esse discurso de aumentar a segurança com repressão. Não queremos ver a volta da Rota ou o desrespeito aos direitos humanos. As autoridades têm obrigação de garantir a segurança da população", afirmou. O representante da Anistia Internacional pediu que seja feita uma investigação para descobrir se o crime foi ou não político. Ele lembrou que vários políticos do PT foram vítimas de atos de violência ou receberam ameaças de morte. "Estas pessoas estão recebendo ameaças e não estão sendo protegidas pelas autoridades", disse Cahill. O professor William Smith, do Departamento de Estudos Internacionais e Comparados da Universidade de Miami, também acha que o assassinato é preocupante. "Todo mundo, mesmo fora do Brasil, está muito preocupado porque (este tipo de crime) representa a ameaça da volta dos esquadrões da morte, típicos do regime militar dos anos 60 e 70", afirma. Ele não acredita, no entanto, que essa onda de violência contra políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) represente uma ameaça à democracia. "A democracia brasileira está bastante consolidada", afirmou. Segundo a socióloga Angelina Peralva, professora da Universidade de Toulouse (França) e especialista em violência urbana, o problema só será resolvido quando a polícia se livrar da herança autoritária e corrupta da ditadura. "O Brasil convive com uma herança autoritária da ditadura. Até hoje, a polícia não foi reeducada para agir de acordo com as exigências da democracia", enfatizou Peralva. Segundo ela, a democracia cria um potencial de violência na medida em que garante mais liberdade. "Mas isso não significa que a repressão tenha que aumentar. A liberdade tem que se apoiar em instituições democráticas que possam garantir a ordem pública. A democracia brasileira não construiu isso até hoje", disse Peralva, autora do livro "Violência e Democracia - o paradoxo brasileiro".

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