A ONU sob fogo cruzado

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Publicado Terça, 28 de Janeiro de 2003 às 16:58, por: CdB

Se a ONU quer ter algum papel no futuro, não pode aprovar essa guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, advertiu Vittorio Agnoletto, coordenador do Forum Social da Italia, durante a última Mesa de Diálogo e Controvérsias deste III FSM, segunda-feira no Gigantinho. A intervenção do médico italiano incendiou o debate sobre "como construir a paz entre os povos, em oposição às guerras do século XXI". Ele anunciou que se está organizando uma comissão internacional de parlamentares e cientistas para inspeccionar a produção de armas nos Estados Unidos e que 15 de fevereiro será o Dia de luta contra a guerra e pela paz no Oriente Médio, com manifestações em mais de 40 grandes cidades do mundo. A ONU diz combater a pobreza, mas nada faz para suspender o embargo comercial americano e inglês ao Iraque, que provoca a morte de milhares de pessoas pela fome, acusou Agnoletto, dando origem a um bate-boca com Nitin Desai, Subsecretário Geral da ONU para Asuntos Econômicos e Sociais. Desai respondeu dizendo que 37 por cento do orçamento da sua instituição se destina à assistência humanitária, mas não atendeu às cobranças indignadas de Agnoletto por uma definição clara sobre o embargo. "Só posso falar do que faz a ONU", disse também aos gritos. Desai foi portador de uma mensagem do Secretário Geral Kofi Annan, desejando êxito ao FSM e conclamando seus participantes a trabalhar em parcerias com governos, agências da ONU e o setor privado, para "moldar"uma globalização que "ofereça oportunidades não apenas a uns poucos afortunados, mas a todas as pessoas, especialmente aos pobres e aos desprotegidos". Annan reconheceu que o Conselho de Segurança da ONU enfrenta "uma das maiores provas da sua história", com a inspeção de armas no Iraque, e que o mundo sofre "uma grande ansiedade", ante as ameaças de guerras e de novos ataques terroristas. Mas considera que vivemos um momento de oportunidades para construir um sistema internacional "aberto e justo", capaz de enfrentar os graves problemas, como a disseminação da Aids, o saque aos recursos do meio ambiente, a injusta distribuição dos benefícios da globalização e as barreiras comerciais e subsídios que impedem países em desenvolvimento de competir na economia global. Nada disso evitou os duros ataques à ONU. A argelina Nadia Aissoui, feminista que dirige uma rede de organizações não governamentais árabes, acusou o sistema das Nações Unidas de não fazer cumprir suas próprias resoluções pela retirada israelense dos territórios palestinos e de tolerar violações das convenções internacionais, como as que reconhecem os direitos femininos. A ONU não pode falar de paz, quando os cinco países com poder de veto no seu Conselho de Segurança respondem por 80 por cento do comércio mundial de armas, salientou. Ilan Halevy, ministro de Cooperação da Autoridade Palestina, atacou os Estados Unidos de criar um "clima de guerra" indispensável para justificar ataques. Para isso fomenta a "islamofobia", a "desumanização do outro", como um elemento essencial dessa estratégia. Defendeu a mobilização popular para mudar a correlação de forças no mundo, fortalecer o sistema das Nações Unidas e neutralizar os planos belicistas de Washington.

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