A multidão na ágora reinventa a política

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Publicado Quarta, 22 de Junho de 2011 às 08:45, por: CdB

Hoje, quem move, impulsiona e dá vida às lutas radicalmente anticapitalistas já não são os partidos políticos e os sindicatos

22/06/2011

 

Cesar Sanson

 

Tahrir (Egito), Puerta del Sol (Madri), Syntagma (Grécia). A “multidão” se move. Também na Itália, em Portugal, em Londres. Os Indignados, os invisíveis, os anonymous tomam as ruas e praças numa luta coletiva que tem em comum a radicalização da democracia. “Tomar a vida em nossas mãos”, é o grito que eclode nas ágoras dos grandes centros urbanos.

Hoje, quem move, impulsiona e dá vida às lutas radicalmente anticapitalistas já não são os partidos políticos e os sindicatos. É, sobretudo, a multidão – sujeito social que se compõe a partir da multiplicidade de subjetividades e que age com base naquilo que as singularidades têm em comum e se articulam a partir das redes sociais.

É a mobilização dos sem futuro por um futuro. É um grito de basta. Um basta a precarização da vida, a mercadorização, a política irrelevante que nada decide, e quando decide, o faz a favor do mercado, das finanças. Nesse sentido, o recado dados pelos jovens, mas não apenas eles, nas praças de todo o mundo guarda o mesmo espírito do grito da juventude argentina insurreta em 2001: “Que se vayan todos!”

A spanish revolution, o movimentou que tomou as praças e ruas em toda a Espanha e ficou conhecido como 15-M ou Puerta del Sol em referência à praça madrilena, começou com o convite para a manifestação do dia 15 de maio de 2011 (15-M), lançada por uma rede emergente chamada “Democracia Real Já”. O lema da convocatória foi: “Não somos mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros. Democracia real já”. A manifestação foi realizada em mais de 60 localidades de toda a Espanha pelos vários núcleos do movimento e foi amplamente convocada através das redes sociais na internet, principalmente via Facebook e Twitter.

Dignidade é uma palavra chave do 15-M. “Os indignados”, dessa forma também é conhecido o movimento, é uma referência ao ensaio Indignai-vos!, de Stéphane Hessel. Os indignados protestam, sobretudo contra a política. É grande a desilusão com o mundo da política em toda e Europa. Particularmente na Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE no poder é uma espécie clássica de uma esquerda que assumiu a agenda da direita. As ocupações das praças denunciam a falência da esquerda institucional.

As manifestações atestam o esgotamento da política tradicional. Há um que de 1968 nesses movimentos. A política se tornou irrelevante. É preciso mudar a política. A democracia representativa faliu. “Democracia real já” pedem os indignados.

Não é apenas no Norte o esgotamento com os partidos e a política institucional. Também no Sul se vê manifestações e alternativas. Que se vayan todos! [Argentina]; Oaxaca, Outra Campanha e as Caracoles [México]; Sumak Kawsay [Países andinos]; Assembléia Popular [Brasil] reverberam o esgotamento da política tal como está aí. Os partidos abandonaram a utopia, os sindicatos lutam pela PLR – ampliar o consumo.

A luta pela utopia vem das novas lutas sociais. Ela está presente na singularidade/subjetividade dos indignados, dos invisíveis, dos anonymous que se transformam em multidão e passam a agir em comum por uma causa comum.

 

Cesar Sanson é pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.

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