Yes, nós temos vulcões ou pelo menos tivemos

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Publicado Segunda, 29 de Julho de 2002 às 08:02, por: CdB

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) localizou em Tapajós, no estado do Pará, um dos maiores e mais antigos vulcões conhecidos no mundo. A idade do vulcão é estimada em quase dois bilhões de anos - quase a metade da idade da Terra, calculada em 4,5 bilhões de anos, diz o professor Caetano Juliani, coordenador do grupo. Juliani destacou que essa descoberta posicionou o Brasil na rota mundial de interesse dos vulcanologistas. O vulcão está localizado na província aurífera do Tapajós, no Pará, entre os rios Tapajós e Jamanxim. Não existe estrada de acesso ao local, que reúne ainda outros diversos vulcões, formados quando o local afundou. "É muito raro encontrar vulcão tão antigo ainda preservado do intemperismo e da erosão", comemorou o professor, explicando que formações antigas desaparecem devido ao desgaste proveniente do conjunto de processos de decomposição das rochas por interação com a atmosfera e hidrosfera ou ainda geológicos, resultantes da constante movimentação das placas tectônicas ao longo do tempo. Segundo o geólogo Rafael Hernandes Corrêa Silva, outro participante do grupo de pesquisadores, a formação do vulcão se iniciou a partir de dezenas de pequenas erupções. O ponto alto das atividades foi uma erupção gigantesca, catastrófica e altamente explosiva que, além de expelir uma quantidade extraordinária de lava e cinzas, provocou o desabamento de uma área circular de 22 quilômetros, chamada de "caldeira". O gigante descoberto na Amazônia pertence ao grupo dos vulcões constituídos por magma ricos em sílica (ácidos), que geram os complexos de maiores dimensões, ao contrário dos formados por magmas pobres em sílica (básicos). Juliani disse que a preservação do acidente e da cratera do vulcão, gerada pela reação química dos fluidos e gases liberados pelo magma (rocha fundida que constitui o manto) e da água subterrânea com as paredes do vulcão, é única no mundo. Também foi possível identificar alguns minerais encontrados nas rochas que compõem a cratera, sendo o principal deles a alunita, um sulfato rico em potássio e sódio. O que chama a atenção, segundo o pesquisador, é o fato de o material se formar em temperaturas relativamente baixas (inferiores a 350°C) e quase na superfície, a cerca de mil metros de profundidade no máximo. "Não sabemos porque a estrutura permaneceu estável. Essa é uma questão em aberto, que merece estudos detalhados", frisou. Os primeiros estudos na região começaram em 1998 e versavam sobre os minérios da região. Os pesquisadores chegaram à existência do vulcão, que se eleva de 250 a 300 metros acima da superfície, por meio de análises químicas dos compostos da região, imagens de radar, de satélite e trabalhos de campo, que permitiram delinear a extensão e o formato da caldeira. Diz o pesquisador que o vulcão surgiu no período Paleoproterozóico (2500 a 545 milhões de anos), o segundo na escala geológica, posterior apenas ao período Arqueano. "Não havia continentes como nós os conhecemos hoje", lembra Juliani. "As únicas formas de vida existentes eram bactérias, cuja origem é de 2,5 bilhões de anos, e seres unicelulares, de dois bilhões de anos descobertos por estudos realizados na Austrália". A descoberta do vulcão levantou questões sobre possíveis erupções. Juliani garante que a estrutura está completamente inativa. O sistema foi extinto quando o material líquido que preenchia a câmara magmática esfriou, um processo de milhares de anos. (Com informações da Agência Brasil)

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