Villepin pode deixar o cargo nas próximas horas

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Publicado Quarta, 03 de Maio de 2006 às 10:24, por: CdB

Primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin voltou a se defender, energicamente, nesta quarta-feira, ao negar mais uma vez seu suposto envolvimento em um escândalo depois de um jornal ter contestado a linha de argumentação adotada por ele há uma semana. Villepin, enfraquecido após ser derrotado no embate em torno de um novo tipo de contrato de trabalho para jovens, divulgou nesta quarta-feira mais uma de suas quase diárias alegações de inocência, enquanto a polêmica tratava de relançar os boatos sobre a capacidade dele de continuar no cargo e uma possível renúncia do premiê nas próximas horas.

O chamado caso Clearstream atrapalhou os esforços do premiê de continuar com as reformas e alimentou o ressurgimento da extrema direita antes das eleições presidenciais de 2007. O jornal Le Monde publicou nesta quarta-feira trechos de um documento provando que Villepin sabia mais do que havia admitido a respeito de um suposto esquema para manchar a imagem do ministro francês do Interior, Nicolas Sarkozy, rival do premiê na disputa pela Presidência.

"O primeiro-ministro denuncia com vigor a renovada exploração, realizada pelo jornal Le Monde, de comentários truncados, confusos e de interpretações. Ele exige que a verdade seja estabelecida e que cheguem ao fim as mentiras e as calúnias", afirmou o gabinete de Villepin em um comunicado.

Nesta terça-feira, o premiê pediu o fim da campanha de ataques contra ele e descartou a possibilidade de renunciar. O escândalo Clearstream começou com acusações anônimas, surgidas em 2004, de que Sarkozy e outros políticos tinham contas em uma instituição bancária de Luxemburgo ligada com o pagamento de propina durante a venda de fragatas francesas para Taiwan, em 1994. A lista de contas era falsa, mas a investigação continuou, levando Sarkozy e outros a fazer acusações de que tudo não passava de um plano para prejudicá-los.

Transcrição

Os juízes encarregados de investigar o suposto plano já interrogaram uma importante autoridade de serviços de inteligência a respeito dele e apreenderam notas feitas em um encontro de 9 de janeiro de 2004 com Villepin, encontro no qual as acusações de irregularidades teriam sido discutidas. O Le Monde, que publicou a maior parte da transcrição do interrogatório do general Philippe Rondot na Internet, disse que a versão dos fatos apresentada pelo premiê não resistia a uma análise mais detalhada.

Na sexta-feira, Villepin divulgou um comunicado negando categoricamente ter pedido a Rondot que investigasse Sarkozy ou qualquer outro político. O jornal contestou essa afirmativa:

"Ao ler as notas do general - escritas por ele dois anos atrás, quando não imaginava que elas poderiam um dia ser apreendidas por autoridades do poder Judiciário -, fica claro que o senhor Sarkozy foi objeto de grande parte da conversa (entre Rondot e Villepin). As notas, apreendidas durante uma operação de busca, deixam claro que, naquela data, o senhor Villepin foi informado sobre a presença de políticos na lista de Clearstream", cita o jornal.

Políticos da oposição apelidaram o caso de o Watergate francês, uma referência ao escândalo que acabou levando o presidente norte-americano Richard Nixon à renúncia, em 1974. O presidente francês, Jaques Chirac, vê-se novamente sob pressão para depor Villepin, cujo índice de aprovação de 20 por cento está apenas dois pontos percentuais acima do menor patamar de apoio registrado para alguém no mesmo cargo. Se não sair, o premiê corre o risco de ficar mais 12 meses no poder incapacitado de realizar reformas e perseguido por seus adversários políticos.

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