'Vida em Bagdá nunca foi tão difícil', diz brasileiro

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Publicado Terça, 20 de Março de 2007 às 07:26, por: CdB

Assim como a maioria dos iraquianos entrevistados na pesquisa encomendada pela BBC e pela rede norte-americana ABC News, o libanês naturalizado brasileiro Aune al-Dari perdeu as esperanças em relação ao futuro do país. Há 27 anos no Iraque, Al-Dari disse a jornalistas, nesta terça-feira, que o dia-a-dia na capital, Bagdá, nunca foi tão difícil como hoje.

- Temos uma hora de eletricidade e 11 de apagão. Nos hospitais, não existe o mínimo necessário numa situação normal, imagine nesta que nós vivemos. A inflação impede o cidadão iraquiano de fazer qualquer coisa - diz o brasileiro.

Apesar de a embaixada brasileira no Iraque funcionar temporariamente em Amã, na vizinha Jordânia, Al-Dari cuida do prédio em que a equipe diplomática trabalhava, fora da área fortemente protegida conhecida como Zona Verde, em Bagdá.

- Vou para lá todos os dias, não é muito longe de casa. Vou escoltado por um guarda e um motorista, correndo os riscos - relata.

Ele diz que muitos iraquianos fazem o mesmo.

- Eles têm de procurar trabalho, têm de sair de casa para sobreviver. Mas aí arriscam a vida por causa das explosões, do engarrafamento nas barreiras - que dura três horas para ir e para voltar - e ninguém sabe se vai voltar para a casa. É uma labuta catastrófica, miserável - afirma Al-Dari.

Na opinião de Al-Dari, se a grande maioria dos iraquianos queria se libertar do regime de Saddam Hussein antes da invasão de 2003, hoje "muitos querem voltar ao regime, de tanto que sofreram, de tanto que foram expostos a uma miséria lamentável". De acordo com a pesquisa, publicada nesta segunda-feira, 47% dos iraquianos entrevistados acham que a invasão do Iraque foi correta, enquanto que 53% acreditam que ela não deveria ter sido realizada.

Porém, apenas entre os sunitas, a maioria (58%) gostaria de voltar ao antigo regime, ou seja, é favorável a um governo de um "líder forte", que conduza o país por tempo indeterminado; 43% dos iraquianos querem uma democracia no Iraque.

- O governo atual representa uma parte fraca no Iraque, representa mais a vontade dos norte-americanos. Para se resolver o problema da violência é preciso um governo secular, laico, que impeça a continuação desta guerra sectária, dos confrontos entre sunitas e xiitas - diz Al-Dari sobre a gestão do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, um xiita.

O representante diplomático explica como consegue se manter longe das disputas entre as duas seitas:

- Todos aqui me conhecem e vivo como um deles. Mas o mais importante é não tomar lados.

Na avaliação do embaixador brasileiro para o Iraque, Bernardo de Azevedo Brito, a situação em Bagdá ainda não permite que a embaixada seja transferida de Amã de volta à capital iraquiana.

- O custo de ter uma embaixada em Bagdá é elevadíssimo, por causa dos gastos com escolta e segurança para se movimentar na cidade. Além disso, os resultados seriam muito limitados, justamente por causa desta dificuldade de locomoção - justifica.

Diferentemente de Al-Dari, no entanto, Brito, que assumiu a embaixada em setembro do ano passado, diz estar otimista sobre o futuro do Iraque e sobre as relações do país com o Brasil, especialmente na área econômica.

- Vou dar um exemplo para explicar o meu otimismo: recentemente foi aprovada a nova legislação de petróleo no Iraque, que resultou de uma negociação muito difícil, que precisava de consenso e conciliação de interesses. Da mesma forma que houve uma solução para um problema tão complicado, outros assuntos podem ter solução - diz o embaixador.

Brito também afirma que a busca pelo brasileiro desaparecido no Iraque há dois anos, o engenheiro da Odebrecht João José Vasconcellos Jr., é um assunto permanente em sua agenda.

- Sempre que tenho meus contatos, eu procuro levantar, ver se há notícias, interessar entidades que possam ajudar a colher informações. Não posso entrar em muito mais detalhes, porq

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