A fumaça ainda cobria o sul de Manhattan quando o presidente brasileiro começou a disparar telefonemas, conta a revista Newsweek. "Como milhões de latino-americanos, Cardoso tinha assistido à manhã de horror na América e estava convencido de que só com uma grande aliança se poderia restaurar a segurança mundial," escreve o correspondente Mac Margolis. "Então, desencavou um documento de meio século de existência - o Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca - e, em questão de horas, conseguiu ter todos os líderes latino-americanos alinhados no apoio à guerra dos EUA contra o terrorismo. Conquistar as mentes e os corações latino-americanos, entretanto, será bem mais difícil. O ressentimento em relação aos EUA não é nada novo nos países em desenvolvimento. Algumas horas depois dos ataques, em muitas partes do mundo, a reação era muito diferente da de Cardoso - uma espécie de satisfação com o fato de a superpotência mundial ter sido nocauteada. Os latino-americanos não costumam mais gritar 'fora Yankees' como antes, mas uma pitada de ressentimento contra tudo que é gringo sempre existiu e o 11 de setembro parece ter trazido isso à tona. 'Não sou contra o povo americano, mas os EUA tiveram o que mereciam. Você colhe o que planta', disse Kiko Netto, estudante de psicologia de 19 anos da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. É verdade que muitos latino-americanos ficaram desolados com a 'Terça-Feira Negra' que tirou a vida de muitos compatriotas. Mas, poucos dias depois dos ataques, um sentimento diferente começou a surgir nas ondas de rádio, nos editoriais dos jornais e nos bate-papos nos bares da região. Uma professora de inglês de São Paulo ficou perplexa ao ouvir seus alunos se dizerem interessados em estudar a 'linguagem do imperialismo'. E, em uma manifestação pela paz que reuniu comerciantes árabes, judeus e cristãos no centro do Rio, cartazes pediam que fossem lembradas outras vítimas além dos que morreram nos ataques contra os EUA. '150 mil mortos em Hiroshima. Quem fez isso?',era a pergunta em um dos cartazes. 'Um minuto de silênciio pelos mortos da América. 59 minutos pelas vítimas da política americana', dizia outro".
Rio de Janeiro, Sexta, 19 de Abril de 2024
Velhos ressentimentos da A. Latina contra gringos superam simpatia por EUA
Arquivado em:
Publicado Quarta, 10 de Outubro de 2001 às 15:27, por: CdB
Edição digital