Universidades públicas de SP não confirmam proposta de plano de cotas
Em matéria veiculada pelo Estadão, reitor da Unesp afirma que proposta será enviada ao governador ainda nesta semana
Por: Júlia Rabahie, da Rede Brasil Atual
Publicado em 26/11/2012, 14:50
Última atualização às 14:50
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São Paulo – As universidades estaduais de São Paulo – Usp, Unesp e Unicamp – não confirmaram o fechamento de um plano de políticas de cotas anunciado hoje (26) pelo jornal O Estado de S.Paulo. Na matéria, o reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, afirmou que, aos moldes da Lei de Cotas instituída pelo governo federal, a proposta foi fechada na última quinta-feira (22) pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp), que criou em outubro uma comissão para discutir um plano de inclusão social.
Durigan disse que a proposta para o programa de cotas já foi escrita e vai ser apresentada nesta semana ao governador. “Estamos fazendo o mesmo que o governo federal, mas com mais qualidade”, afirma. No entanto, as assessorias das três universidades – incluindo a Unesp – não confirmaram a afirmação hoje (26) e disseram não ter informação oficial sobre o tema. Foi reconhecido apenas que existe uma comissão que debate a formulação do plano de cotas.
Como apurado pelo Estadão, as cotas estaduais levariam em conta critérios sociais e raciais, assim como a lei federal. Metade das vagas seria reservada para estudantes com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, sendo 35% destinados a pretos, pardos e índios.
Ainda segundo Durigan, o projeto propõe bolsas e cursos de reforço que garantiriam a permanência dos alunos nas universidades. Os cursos teriam duas modalidades. Um deles seria preparatório e anterior à entrada na universidade, de até dois anos, que valeria também já como um curso de nível superior. “O curso daria um diploma de nível superior a estes alunos, um diploma intermediário. E depois estariam aptos a entrar na universidade ou poderiam entrar no mercado de trabalho”, disse o reitor ao Estadão.
Ainda afirmou que este curso seria um diferencial por já direcionar o estudante para o mercado. “O que nós queremos é levar esse aluno para cima. Os alunos que entram nos vestibulares mais concorridos já ficam dois ou três anos no cursinho. Os alunos que vão fazer o reforço antes da universidade não vão fazer um cursinho, mas um curso voltado ao trabalho.”
A outra proposta seria um curso de reforço paralelo após a entrada na universidade, nas matérias em que o aluno tiver se desempenhado mal no vestibular.
Douglas Belchior, conselheiro da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro), movimento que agrega militantes da causa anti-racista, considera a ideia dos cursinhos, como colocada pelo reitor da Unesp, como um esforço das universidades de construir uma etapa anterior ao acesso objetivo à universidade. “Pelo que vemos na formulação que foi dada pela imprensa, será criada uma barreira, uma etapa a mais para quem está tentando entrar no ensino superior.”
Segundo ele, o fato de o curso ser preparatório também ao mercado de trabalho é algo que teria o papel de excluir os alunos beneficiados pelas cotas da universidade. “Isso empurra o estudante para o mercado de trabalho e para fora da universidade. Não que seja ruim essa capacitação, é sempre positiva, mas isso pode ser feito com sua entrada efetiva na faculdade.”
Se o plano estiver de fato fechado e for enviado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), Belchior garante que o movimento negro irá se contrapor a ele. “Precisamos esperar sua formulação final, mas ele não nos contempla. Lutaremos pelas cotas raciais nas universidades paulistas.”
A participação do movimento social negro é lembrada pelo conselheiro da UNEafro como essencial a qualquer tipo de formulação de políticas afirmativas. “Precisamos exigir que os movimentos participem da elaboração, do estudo e da aprovação deste plano. O governo não pode, através das universidades, formular uma proposta que não dialogue com os movimentos e os interessados no assunto.”