Uma triste evocação do março de 1964

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Publicado Segunda, 28 de Março de 2011 às 11:35, por: CdB

Até quando vamos ter de conviver com fatos tristes como estes, de oficiais generais assinando cartas em defesa da continuidade das comemorações do 31 de março de 1964, data do golpe militar?

O Ancelmo Gois, em sua coluna em O Globo ontem, noticiou que os presidentes dos três clubes militares - Naval, Militar e da Aeronáutica - redigiram carta em que defendem a comemoração do 31 de março, abolida do calendário do Exército, com o argumento de que o golpe de 64 (eles chamam de "revolução") "foi em defesa da democracia" e "contra a tomada do poder por um regime ditatorial comunista".

Gente, essa história de contragolpe para impedir instalação de ditadura comunista ou república sindicalista foi das primeiras coisas desmoralizadas pós-quartelada de 64. Era pretexto, invenção dos tempos da Guerra Fria (1989).

Jango não era e nunca foi comunista


Todos sabem que o presidente constitucional então deposto, João Goulart, o Jango, não era e nunca foi comunista. Apenas integrou a vida inteira um partido, o PTB - nada a ver com o de agora - que no final, perto de ser extinto por ato de força da ditadura (1965), tornara-se uma legenda de esquerda.

A Folha de S.Paulo descobriu, e publicou no fim de semana, que documentos dos anos 70 do Ministério da Marinha mostram que a Operação Papagaio dava ordens para "eliminar" - e não enfrentar, combater e prender - os integrantes da guerrilha contra a ditadura.

O jornal diz que isto nunca veio a público antes. Oficialmente, é vero, embora Elio Gaspari em sua triologia ("A ditadura envergonhada", "A ditadura encurralada" e "A ditadura derrotada") reproduza conversa do general Ernesto Geisel com outro general, na qual o presidente da República dizia que precisava matar mesmo.

E a Argentina já tem 486 presos da ditadura. Os processos contra pessoas que cometeram crimes no último regime militar deles (1976-1983) geraram 200 condenações de ex-integrantes do Exército, Marinha, Aeronáutica, polícias, forças nacionais de segurança e civis envolvidos na repressão. Destes, 40 casos já transitaram em julgado, os réus não têm mais direito a recursos.

 

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