'Tortura Nunca Mais' diz que abertura de arquivos é pouco

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Publicado Quinta, 22 de Dezembro de 2005 às 08:32, por: CdB

A fundadora e vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, disse acreditar que a abertura dos arquivos da ditadura militar trará poucas informações importantes para o esclarecimento de fatos, assassinatos, desaparecimentos e prisões ocorridos durante a ditadura. Cecília Coimbra, que em 1970 ficou presa por três meses no DOI-Codi do Rio de Janeiro, classificou como "uma mise-en-scène (encenação) midiática" a divulgação desses documentos. Segundo ela, o governo federal vem fazendo isso em função da pressão que o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) colocou em seu relatório há cerca de um mês, quando apontou a necessidade imediata de abrir os arquivos da ditadura militar e inclusive punir os torturadores, o que nunca é falado. Coimbra diz ainda que a abertura dos arquivos é uma tentativa de responder, mas é uma resposta extremamente canhestra e limitada.

Para Coimbra, a Comissão Interministerial criada pelo governo para tratar do assunto está "filtrando documentos". Ela acrescentou que "esse decreto é um faz-de-conta porque, na realidade, não está sendo fornecida a documentação que dá informações sobre as questões dos mortos e desaparecidos, sobre como, onde, quando e por quem essas pessoas foram mortas e tiveram seus corpos ocultados, mesmo aqueles que estão vivos, os ex-presos políticos e informações maiores sobre as suas prisões".

De acordo com a fundadora do grupo Tortura Nunca Mais, "esses arquivos existem e os diferentes governos federais vêm sistematicamente negando a existência deles". Ela ressaltou que "essa é uma questão que diz respeito não só a nós que fomos presos, que somos familiares de desaparecidos - essa é uma questão que diz respeito a toda a sociedade brasileira".

Cecília Coimbra também lamentou que a Advocacia Geral da União tenha suspendido o processo de abertura dos arquivos da Guerrilha do Araguaia (movimento político contra a ditadura militar que durou de 1972 a 1975), que tramitava há mais de duas décadas. "Aquilo que nós reivindicamos há 20 anos, que essa história possa ser contada, continua sendo jogado para debaixo do tapete. Nada vai ser feito", afirmou. No entanto, ela garantiu que o grupo Tortura Nunca Mais, fundado em 1985, manterá a campanha nacional e internacional pela imediata liberação de todos os arquivos da ditadura, "porque isso diz respeito à história desse país".

Os documentos sigilosos da ditadura militar que estavam em poder da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ficarão disponíveis ao público a partir do início de 2006. Hoje (21), foram transportados 13 arquivos de aço, com fotos, cartazes, filmes, livros, panfletos e revistas, 220 mil microfichas, além de 1.259 caixas, por três caminhões e duas vans. O material foi produzido pelos extintos Serviço Nacional de Informação (SNI), Conselho de Segurança Nacional (CSN) e Comissão Geral de Investigações (CGI), no período de 1964 a 1990.

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