Soldados dos EUA no Iraque apresentam desgaste

Arquivado em:
Publicado Sexta, 03 de Outubro de 2003 às 13:45, por: CdB

Enquanto em Washington se debate a possibilidade de enviar mais reservistas para reforçar a segurança no Iraque, os soldados dos Estados Unidos já estacionados no país insistem em dizer que cumprem seu dever e se negam a reconhecer seu esgotamento em público. "Não é que eu não esteja farto, mas me contenho muito para não desmoralizar meus homens", diz o sargento Mike Peres, do Havaí e descendência portuguesa, que chegou em maio e irá embora em maio. "Não penso se gosto ou deixo de gostar, é meu trabalho e ponto".

Peres, como todos os soldados que patrulham o Iraque ou vigiam edifícios, pontes e cruzamentos estratégicos, não tira nunca o colete à prova de balas nem o capacete, mesmo quando as temperaturas passam de 50 graus. "Claro, este é o lugar mais duro onde estive - depois de Bósnia e Kosovo - porque temos ações hostis diariamente", reconhece, dizendo que "os iraquianos têm duas caras, você nunca sabe o que eles pensam".

Nenhum dos soldados consultados se queixou da dureza da missão nem de sua duração - em quase todos os casos um ano - e em todos os casos consideram a tarefa como um mero cumprimento de seu dever. Os soldados só têm duas semanas de licença paga depois dos primeiros seis meses e sabem, além disso, que poderiam ter de voltar uma segunda vez depois do primeiro ano de missão.

O policial do Exército Adrian Muñoz, nascido em El Paso e de origem mexicana, veio a Bagdá só para "distrair-se", pois sua base está em Balad, um lugar onde a resistência iraquiana é muito ativa e "constantemente estão disparando contra nós". A distração de Muñoz consiste em patrulhar um bairro tranqüilo de Bagdá, o distrito de Al Mansur, e parar de vez em quando para papear com crianças, que são as que mais se aproximam dos militares americanos.

Muñoz está na porta de um restaurante, de onde se aproximou para se permitir o pequeno luxo de comer com prato e talher: há seis almoça e janta as rações militares americanas, muito energéticas, mas que é preciso comer dentro de uma bolsa de plástico.

O sargento Johnson é dos que saem para comer não tanto para variar, mas para "ter um pouco de contato com a sociedade iraquiana", e diz que em geral se sente bem recebido, embora "melhor nestes bairros que em os bairros mais pobres". Johnson, assim como os demais, tem direito a dar um telefonema semanal para suas famílias, no qual afirma que não fala da situação no Iraque. Quando há atentados contra soldados americanos também liga para assegurar que está bem.

Há alguns - como Peres - que quando telefonam para a família sempre diz sistematicamente: "Não se preocupem, esse atentado que vocês viram na televisão aconteceu muito longe daqui".

O subtenente Kendall, de apenas 24 anos, encara com entusiasmo sua missão, que hoje consiste em uma inspeção aleatória de carros em busca de armas. Ele afirma que os iraquianos "não só não se incomodam (com as revistas de carros), como nos agradecem". Kendall lembra os momentos difíceis de sua permanência, que já dura vários meses, como quando teve que passar, como os iraquianos, as dificuldades de não contar com eletricidade nem água corrente.

Embora não admita que haja uma mudança de estratégia no que se refere às patrulhas, é evidente que a presença militar americana nas ruas é agora muito menor do que há quatro meses e é muito raro ver soldados comendo uma fatia de pizza ou um refrigerante em lanchonetes.

Desde que o presidente Bush deu por terminada a guerra em primeiro de maio, quase 90 soldados americanos já foram mortos em ações da resistência iraquiana, e é rara a semana que não termina com vários mortos. O Governo americano reconheceu que os grupos armados estão melhor organizados do que se esperava, e isso o levou semana passada a reforçar seus 130 mil homens com duas brigadas de infantaria de reservistas, de 5 mil homens cada uma, que passarão um ano no Iraque.

Além dos soldados americanos, há um contingente britânico de 10 mil homens, quase todos no sul do país, e uma divisã

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo