Relator e oposicionistas divergem sobre rumos da CPMI do Cachoeira

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Publicado Terça, 26 de Junho de 2012 às 12:49, por: CdB

Representante do PSDB acusa relator de estar direcionando partidariamente os trabalhos do colegiado. Já o relator diz que o "direcionamento" é da organização criminosa comandada pelo contraventor.

Leonardo PradoNa reunião de hoje, integrantes da CPMI tentaram esclarecer a venda de uma casa do governador goiano.

A estratégia da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira de ouvir depoimentos de pessoas ligadas à compra da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), por pessoas ligadas ao esquema de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi criticada nesta terça-feira por parlamentares da oposição. Na opinião deles, a questão já está resolvida, e o governador já explicou que não tem envolvimento com a organização do contraventor.

Cachoeira foi preso pela Polícia Federal, no final de fevereiro, quando estava morando nessa casa que pertencia a Perillo. Para os deputados ligados ao PSDB, a casa já havia sido vendida, e o governador goiano não sabia quem eram os novos residentes.

Na avaliação de outros integrantes da comissão, a casa pode ter sido comprada pelo próprio Cachoeira, que teria utilizado empresas e sócios como “laranjas” para realizar o negócio e beneficiar Perillo. Cachoeira é acusado de chefiar um esquema de jogos ilegais e de fazer tráfico de influência com agentes públicos e privados.

Depoimentos
Dois dos três depoentes de hoje se recusaram a falar: o ex-assessor do governador goiano Lúcio Fiúza Gouthier, que teria presenciado a venda da casa; e o engenheiro Écio Antônio Ribeiro, um dos sócios da empresa Mestra Administração e Participações, em nome da qual a casa foi registrada em cartório após a venda.

Leonardo PradoAlexandre Milhomen foi responsável pela decoração da casa onde Cachoeira foi preso.

Apenas o arquiteto Alexandre Milhomen aceitou depor. Ele foi o responsável pela decoração da casa e afirmou não saber que o imóvel havia pertencido ao governador. Ele disse que foi contratado pela mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, para fazer uma decoração provisória da casa, que estava vazia e teria sido emprestada a ela.

Ele negou ter feito uma reforma, como foi divulgado, e insistiu que apenas fez projetos de decoração, com papel de parede e móveis, e a pintura do exterior. Quando perguntado sobre o custo dos materiais para a decoração, ele especulou que pode ter chegado a R$ 500 mil, “pelo excessivo bom gosto” de sua cliente.

Milhomen explicou que recebeu de Cachoeira R$ 50 mil divididos em cinco pagamentos feitos por meio de cheques, mas não soube dizer exatamente quem teria assinado esses cheques.

Empresa de fachada
No entendimento do relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), o arquiteto recebeu dois cheques da Alberto & Pantoja, uma das empresas de fachada do esquema de Cachoeira. Para ele, o trabalho de decoração do imóvel teria ocorrido antes da data que o governador Perillo disse ter vendido a casa.

Em relação aos gastos com móveis e decoração, no valor de cerca de R$ 500 mil, o relator considerou esse ponto como mais um indício de que Cachoeira já havia comprado a casa. “Quem pode decorar uma casa que não é sua, gastando aproximadamente R$ 500 mil? Isso prova que a casa já era de Cachoeira.”

O arquiteto afirmou que o trabalho foi um serviço incompleto - o projeto e execução de uma casa nova, a ser construída pelo bicheiro, o que explicaria por que os pagamentos começaram antes da compra da casa e da ocupação dela por Cachoeira. “Como paramos no anteprojeto, fiz a decoração da casa emprestada pelo pagamento já realizado”, disse.

Críticas
Diversos integrantes da comissão questionaram a convocação do arquiteto, dizendo que não havia motivo para esse depoimento. A oposição insistiu no discurso de que a empresa Delta Construções S.A. deveria ocupar o foco das investigações, e os integrantes da CPMI deveriam ouvir o ex-presidente da construtora, Fernando Cavendish, cuja convocação foi adiada pela comissão.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) chegou a dizer que a vinda do arquiteto ao Congresso foi “descabida e despropositada”. Segundo ele, o relator da CPMI não tinha o que perguntar para o depoente e a atuação desta terça-feira diminuiu o papel da comissão.

Odair Cunha disse que não iria “bater boca” com Sampaio, que estaria fazendo seu papel como aliado de Perillo. Apenas explicou que, com o depoimento do arquiteto, estava tentando estabelecer a data em que foi feita a decoração da casa, porque poderia ter sido anterior à sua venda pelo governador. Ao final da reunião, Odair Cunha considerou o depoimento positivo, porque, segundo ele, ficou evidenciado que quem comprou a casa do governador goiano foi, de fato, Cachoeira.

Sampaio acusou o relator de direcionar partidariamente os trabalhos da comissão. "Não é possível ouvirmos de hoje para amanhã sete pessoas ligadas ao governador Marconi Perillo e, na quinta-feira, três pessoas ligadas ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Vossa excelência não acha que é ruim para essa CPMI todos se aperceberem do seu direcionamento?"

Odair respondeu: "Nós chamamos oito pessoas ligadas ao governador Marconi Perillo porque essa organização criminosa está infiltrada no governo de Goiás. O direcionamento não é da relatoria. O direcionamento é de uma organização criminosa comandada pelo senhor Carlos Cachoeira."

Convocação de Cavendish
Quanto às convocações de Fernando Cavendish e do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot, Odair Cunha disse que vai analisar os documentos em poder da CPMI, antes de decidir sobre assunto.

Ele lembrou que uma eventual convocação poderá ser deliberada pela próxima reunião administrativa da CPMI, que ocorrerá no dia 5 de julho. “Cada coisa no seu tempo e no seu momento”, disse o relator. De acordo com ele, nada impede que a CPMI investigue depois a ligação da Delta com qualquer governo. Mas ele reafirmou que não vai deixar de lado “a investigação dessa organização criminosa que está infiltrada no governo de Goiás, comandado pelo PSDB”.

Mudança de foco
A deputada Iris de Araújo (PMDB-GO), adversária de Perillo no estado, disse estranhar a vontade do PSDB de mudar o foco, e defendeu o relator. Para ela, é preciso investigar mais, “porque o crime está intrincado no governo de Goiás”.

O deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) lembrou que, em casos de corrupção, muitas vezes motoristas e jardineiros revelaram escândalos, e poderia ser o caso do depoimento do arquiteto, criticado pela oposição.

Saiba mais sobre a venda da casa de Perillo.

* Matéria atualizada às 18h45.

Reportagem – Marcello Larcher e Ginny Moraes/Rádio Câmara
Edição – Newton Araújo

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