Jean Ziegler, o relator da ONU para o direito à alimentação, quer que a Assembléia Geral das Nações Unidas tome a iniciativa de pedir às entidades financeiras mundiais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que a dívida externa brasileira seja reduzida. O objetivo seria abrir espaço financeiro para que o governo destine recursos ao programa Fome Zero. Ziegler incluiu o pedido em seu relatório sobre a fome no mundo, que foi enviado nesta quarta-feira à Assembléia Geral da ONU, em Nova York. No relatório, o especialista aponta a situação crítica da fome no Brasil, mas destaca que o problema do País não é falta de alimentos. - O problema é como esse alimento está sendo distribuído. O Brasil tem a capacidade de alimentar toda sua população e ainda exportar - afirmou Ziegler, antes de partir para uma viagem de doze dias para investigar a situação alimentar do povo palestino. No documento enviado à Assembléia Geral, e que já foi apresentado em várias ocasiões em reuniões da ONU, o relator deixa claro seu apoio ao projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de garantir, até o final de seu mandato, alimentos para todos os brasileiros. Para Ziegler, a iniciativa política representa "um dos maiores avanços na história recente do combate à fome no mundo" e, portanto, deve receber o apoio da comunidade internacional. A idéia do relator é que parte dos juros cobrados sobre a dívida externa do País, seja pela FMI seja pelo Banco Mundial, acabem sendo perdoados. - Isso daria mais possibilidade para que o governo brasileiro destinasse seus recursos públicos para o combate à fome, e não para o pagamento da dívida - afirmou Ziegler, que lembra que a dívida externa do País representa 52% do PIB. Os relatórios que estão sendo enviados à Assembléia Geral da ONU começarão a ser avaliados a partir de setembro e Ziegler espera que uma aprovação de sua idéia gere um apoio político necessário para que Lula cumpra seu projeto. Oposição Apesar do entusiasmo de Ziegler com o projeto brasileiro, nem todos na ONU têm a mesma visão sobre as propostas de Lula. Segundo revelou o diretor do Programa Mundial para a Alimentação, James Morris, a entidade não deverá participar do programa Fome Zero. - O Brasil não tem um déficit de alimentos e, portanto, não precisa de nossa ajuda - disse Morris. O diretor disse ainda ser cauteloso com a idéia da criação de um Fundo Mundial contra a Fome, proposto por Lula durante a reunião do G-8 (grupo das oito maiores economias do mundo), em Evian, há poucas semanas. Evitando fazer comentários explicitos sobre a sugestão do governo brasileiro de criar um imposto sobre a venda de armas para alimentar o fundo, o diretor do PMA acredita que o atual sistema de doações feitas por países deverá prevalecer nos próximos anos.
Rio de Janeiro, Sexta, 29 de Março de 2024
Relator da ONU sugere perdão de parte da dívida externa brasileira
Arquivado em:
Publicado Quinta, 03 de Julho de 2003 às 09:47, por: CdB
Edição digital