Relator da CPMI, Cunha negocia alterações no documento final

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Publicado Terça, 27 de Novembro de 2012 às 15:24, por: CdB

Relator da CPMI, Cunha negocia alterações no documento finalPara aprovar seu relatório original que atinge o governador de Goiás, o procurador-geral da República e o diretor da sucursal de Veja em Brasília, o deputado Odair Cunha (PT-MG) só conta com o apoio da bancada do próprio partido. PSDB, DEM, PPS, PDT e PSOL não aceitam menos do que a prorrogação da Comissão. Até o PTB de Collor, o mais inflamado crítico de Gurgel e Policarpo, está dividido. Assim como o PMDB que deverá ser o fiel da balança.

Najla Passos

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Brasília - Impossível prever o que o relator da CPMI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), manterá do seu relatório original no sumário que apresentará aos demais membros da comissão, nesta quarta (28), em reunião programada para às 10 horas, no Senado Federal. A forte pressão da mídia contra a aprovação do documento, aliada ao descontentamento dos próprios membros da base aliada do governo com o seu teor, obrigará o relator a negociar várias alterações para conseguir aprová-lo. E, mesmo a poucas horas da leitura do documento, elas ainda estão sendo costuradas.

As críticas são diversas. Para a imprensa, se concentram em dois pontos: o pedido de indiciamento de cinco jornalistas, incluindo o diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior, e o pedido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para investigar a postura do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que “sobrestou” as investigações sobre as ligações da quadrilha de Carlinhos Cachoeira com parlamentares federais. Em especial, com o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), que teve o mandato cassado por seu envolvimento no esquema.

Os partidos da oposição (PSDB, DEM e PPS) criticam, principalmente, o fato do relatório pedir o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e poupar os quadros dos partidos da base do governo, como os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queirós (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). E com o apoio do PSOL e PDT, defendem também a continuidade das investigações sobre as relações entre a quadrilha e a empreiteira Delta, apontada como principal articuladora política do esquema.

Mesmo o PTB do senador Collor de Mello (PTB-AL), principal crítico de Gurgel e Policarpo na CPMI, está dividido. O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) apoia a prorrogação dos trabalhos. Segundo ele, agora que está livre da prisão, Cachoeira tem muito o que dizer à CPMI e, portanto, deve ser reconvocado a depôr. No seu primeiro depoimento, em maio, o contraventor frustrou os parlamentares ao usufruir do direito legal de ficar em silêncio.

Collor, por sua vez, quer mais indiciamentos de membros do Ministério Público e da imprensa.

Em pronunciamento nesta segunda (26), ele disse que pedirá o indiciamento dos procuradores Alexandre Camanho, Lea Batista Oliveira e Daniel de Resende Salgado, e da subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. E, ainda o do proprietário da Veja, Roberto Civita, além dos de outros jornalistas que trabalham na publicação: Eurípedes Alcântara, Lauro Jardim, Hugo Marques, Rodrigo Rangel e Gustavo Ribeiro.

“Minha expectativa, realmente, é que o relator e o presidente da CPMI não cedam às pressões e não promovam um retrocesso nos trabalhos e nas conclusões da CPMI. Retirar nomes do relatório final, a esta altura, seria uma afronta ao bom senso, um arremedo intempestivo e um atentado à justiça. Ao contrário, entendo que podemos avançar ainda mais, no sentido de alcançar outras pessoas tão perniciosas quanto as já indiciadas e que não foram arroladas no documento final. Deixemos, assim, que a própria CPMI, por meio de seus integrantes, decida com independência, isenção e bom senso, o que for justo e mais adequado para a sociedade brasileira”, afirmou Collor, em plenário.

Ao que tudo indica, o fiel da balança será o PMDB, partido que possui três senadores e dois deputados como titulares na Comissão, incluindo o seu presidente, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Mesmo isento de qualquer implicação de Cabral, o partido segue dividido quanto apoiar o relatório. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que sequer é membro da CPMI, assinou junto com parlamentares do DEM, PPS, PDT e PSOL uma espécie de relatório paralelo, protocolado, semana passada, na Procuradoria Geral da União (PGR), que pede a continuidade das investigações sobre a Delta.

Apoios
Isolado pelo seu próprio partido e pelo Palácio do Planalto, Odair Cunha conta como certo apenas o apoio já manifesto e reiterado da bancada do PT. Em nota divulgada na semana passada, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tato (PT-SP), defendeu, em nome da bancada, que, “diferentemente do que afirma o chefe do executivo goiano, trata-se de um relatório sereno, coerente e contundente na demonstração de que o governador e a alta cúpula de seu governo estavam à mercê dos desígnios de uma organização criminosa incrustada no estado de Goiás”.

A nota também ataca as críticas de que a Delta nacional teria sido poupada das investigações, para não envolver parceiros políticos do partido. “Diferentemente do que afirma o senhor Perillo, o relatório faz uma investigação ampla da empresa Delta para além da região Centro-Oeste e aponta todos os indícios, inclusive com a identificação de mais de 116 empresas, de irregularidades que poderão ser aprofundadas pelo Ministério Público e pela própria Polícia Federal”, diz o documento.


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