Reinventando a esquerda em Porto Alegre

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Publicado Quinta, 03 de Fevereiro de 2005 às 09:44, por: CdB

Um balanço pronto e acabado do FSM é simplesmente impossível, cabe apenas um balanço de uma temática - um espaço, no jargão do FSM. Nos coube os debates sobre uma "Nova Ordem Mundial, +democrática e +solidária". E isto já não é de forma alguma pouco. Havia um pouco de tudo, uma certa babel, unificada por uma frase que teimava em soar na minha cabeça: les dannés de la Terre. Da Internacional - redescoberta no estádio Gigantinho, na espera de Hugo Chávez - e no título fundador Frantz Fanon. Estavam lá todos aqueles que haviam sido "deserdados", abandonados e esquecidos pela admirável nova ordem mundial proclamada por Bush (pai) após a invasão do Iraque em 1991.

As promessas, reafirmadas por Clinton, Blair, Chirac e companhia, a cada reunião do G-7, do FMI ou do Banco Mundial - consagradas nas Metas do Milênio da ONU - não se cumpriram. Nada foi feito, entre 1991 e 2005, para a implantação de termos capazes de substituir o mote globalizado de Free Trade por Fair Trade. O próprio representante do Banco Mundial reafirmou a importância do Livre-Comércio, declarando no mesmo fôlego não saber o que seria um Comércio Justo (Fair Trade).

O Protocolo de Quioto, a mais importante conseqüência da Conferência do Rio, foi duramente sabotado pelo maior poluidor mundial. O combate à aids, flagelo na África, permanece apenas no plano discursivo, da mesma forma que a renegociação ou cancelamento da dívida de países pobres. A nova guerra - agora contra o terrorismo internacional - consome imensos recursos mundiais, causa o maior déficit da história da América - déficit "gêmeos" fiscal+comercial - drenando recursos da periferia do planeta para financiar a guerra no Afeganistão, Iraque, Coréia ( paz armada ou guerra contida? ) e muitos outros pontos do planeta.

Em face a uma guerra bloqueada pelo impasse no Iraque, os EUA já anunciam a sua intenção de estender sua ação contra o Irã. A secretária de Estado dos EUA, "Condi" Rice, anuncia como intoleráveis os regimes de Cuba, Belarus, Zimbabue e Venezuela, como se Washington fosse um dos grandes eleitores da cúria papal, em plena Idade Média. Não adianta a vontade do povo - expressa algumas dezenas de vezes de forma livre e sob observação mundial - na Venezuela: Chávez é um tirano e deve ser afastado. Um tirano que ganha eleições, que mantém uma imprensa livre - mesmo quando esta imprensa conspira e trama com interesses estrangeiros e antipopulares - e implementa amplos programas sociais de alfabetização, moradia popular e reforma agrária.

Outros "deserdados" da Terra estavam em Porto Alegre: a subcasta dos dalits, da Índia; os guerrilheiros-poetas da Frente Polisário do Saara Ocidental; a resistência intelectual de Porto Rico, na luta de afirmação de sua identidade latino-americana; o movimento indígena Pachakutik, do Equador; a via campesina dos cocaleros - note bene, não são narcos! - e o "Movimiento Contra la Impunidad", da Bolívia e tantos outros... Todos buscavam aqui em Porto Alegre uma caixa de ressonância, tambor ou clarín, para sua causa.

Lá estavam também inúmeras organizações do "Norte", europeus em sua maioria, cuja a principal preocupação era a implantação do Parlamento Mundial - "Aqui e Agora", dizia o cartaz! - ou a democratização da ONU. Uma unanimidade contra a globalização perversa e o unilateralismo de Bush, que se partia quando começavam os debates sobre o que seria uma "Ordem Mundial +democrática e +justa".

Para uns tratava-se de criar, aqui em Porto Alegre, o novo parlamento mundial; para outros a reforma da ONU - não a reforma do Conselho de Segurança, como alguns países exigem - mas, uma reforma radical, prevendo, inclusive, o abandono de Nova York, o fim do direito de veto, a imposição das decisões da Assembléia Geral como norma jurídica e - grande ponto de debate - a inclusão de ONGs não vinculadas aos governos. Para estes havia mesmo uma clara desconfiança contra governos e partidos, construindo um i

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