Primeiras 48 horas são cruciais para achar sobreviventes no Rio, diz especialista

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Publicado Quinta, 26 de Janeiro de 2012 às 12:04, por: CdB

Segundo especialista, 90% dos sobreviventes são resgatados nas primeiras 48 horas

As primeiras 48 horas após o desabamento dos três prédios no centro do Rio de Janeiro são fundamentais para encontrar sobreviventes, segundo um especialista britânico em operações de resgate.

Willie McMartin, diretor operacional da organização International Rescue Corps, que já enviou equipes e aparelhos para missões após terremotos, furacões, explosões e acidentes em várias partes do mundo, diz que cerca de 90% dos sobreviventes de desastres são encontrados nesse período.

"Quando olhamos para as imagens do local, é possível ver que o desabamento foi violento, já que o escombro é compacto, mas há pelo menos dois pontos onde há espaços com ar, que poderiam abrigar sobreviventes", disse McMartin à BBC Brasil após analisar um vídeo com as imagens.

"O problema ali é que há muita poeira, então mesmo alguém que tenha sobrevivido ao impacto, existe o risco de desenvolver problemas respiratórios. As primeiras 48 horas são as mais cruciais", disse.

Ele afirma que é uma grande vantagem o fato de não haver grandes variações de temperatura do dia para a noite no local do desabamento.

"Há vários fatores que influenciam a taxa de sobrevivência em um desastre como este. A temperatura externa é um deles. Outro é o acesso a fluidos para evitar a desidratação. A idade e até a força de vontade da pessoa também são fundamentais. Há aqueles que acreditam no resgate mesmo dias após um terremoto ou desabamento. Outros desistem logo e acabam morrendo."

Tecnologia moderna

McMartin afirma que a tecnologia para operações de resgate vem avançando muito.

"Hoje há equipamentos especializados para este tipo de situação. Câmeras de fibra ótica, que podem entrar pelos vãos dos escombros, e equipamentos que detectam sons ou alterações na composição do ar no local foram projetados para maximizar as chances de encontrar sobreviventes. Há até máquinas de raio-x especiais, mas que, por enquanto, só são usadas por grupos especializados na resposta a ataques terroristas", explicou ele.

Após o desabamento no centro do Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil chegaram a utilizar câmeras térmicas e de fibra ótica para tentar localizar sobreviventes, mas devido à espessura das camadas de concreto, as equipes decidiram que elas não estavam sendo eficientes.

Equipes de resgate estão usando retroescavadeiras e cães farejadores

"Nosso melhor recurso tem sido os cães farejadores", disse à BBC Brasil o capitão Fábio Taranto, assessor de imprensa do Corpo de Bombeiros, que acompanha os trabalhos.

Também estão sendo usados geradores para iluminar áreas mais escuras, alavancas e expansores hidráulicos.

"Estamos trabalhando com muita cautela, por isso o processo é demorado. Usamos retroescavadeiras para retirar grandes pedaços de concreto. Aí, paramos, fazemos uma varredura, usamos os cães para verificar se há presença de sobreviventes e só então reativamos as máquinas."

Glasgow e Rio

Willie McMartin diz que os trabalhos de resgate no Rio apresentam desafios similares aos apresentados após uma explosão na fábrica Stockline, em Glasgow, na Escócia, em 2004.

Na ocasião, com o uso de cães farejadores, detectores de gás carbônico, equipamento de imagem termográfica e câmeras de fibra ótica, sete pessoas foram retiradas com vida dos escombros, todas no primeiro dia após o incidente. Ao todo, nove pessoas morreram e 33 ficaram feridas, quase a metade delas, gravemente.

"Uma vantagem de casos de explosão e desabamento em comparação com terremotos é que não há o risco de tremores secundários. Nunca é seguro trabalhar em escombros, mas uma vez que as estruturas se estabilizaram em casos como o do Rio, não se espera que haja grandes movimentações no local."

Ele diz que, mesmo se organizações internacionais fossem acionadas nesta quinta-feira para ir ao Rio auxiliar nas operações de resgate, já chegariam lá depois da janela ideal de 48 horas para o trabalho.

"Ainda assim, até uma semana após um desastre deste tipo é possível haver sobreviventes. Depois disso, só um milagre. Mas milagres acontecem", disse o especialista, lembrando que já houve pessoas retiradas de escombros com vida após mais de quinze dias.

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