Para além do aeroporto de Bagdá

Arquivado em:
Publicado Quinta, 23 de Novembro de 2006 às 12:43, por: CdB

Esta semana, após a defenestração de Donald Rumsfeld do controle do Pentágono, o primeiro-ministro Tony Blair admitiu, implicitamente, que a guerra no Iraque é um desastre e o ex-premiê iraquiano Ilyad Alawi declarou temer que o país esteja em fase de desintegração. O próprio presidente Bush resolveu, enfim, ouvir uma comissão bipartidária sobre saídas possíveis para a guerra no Iraque. Talvez tarde demais... Ainda em setembro passado, Sbigniev Brezezinski, um importante estrategista ligado ao Partido Democrata, pediu nas páginas de Der Spiegel uma mudança radical na política externa e de defesa dos Estados Unidos. Por fim, nesta semana, o notório Henry Kissinger - estrategista republicano com grande atuação nos governos Nixon e Ford - declarou ser impossível uma vitória americana no Iraque.

Uma guerra para manuais

Quando planejou a guerra no Iraque, Donald Rumsfeld (e seu alterego na aventura iraquiana, Paul Wolfowitz) declararam explicitamente que a nova guerra seria estudada nos manuais pelas gerações futuras. A idéia central de Rumsfeld/Wolfowitz era, em termos estritamente militares, superar, de um lado, a chamada "Síndrome do Vietnã" e, de outro, mostrar que o imenso poderio militar/tecnológico americano poderia ser utilizado para alcançar os fins políticos desejados por Washington. Rumsfeld candidatava-se, assim, a ser um teórico da nova guerra do século XXI, superando os estrategistas e teóricos do pessimismo.

Queremos dizer "pessimismo" o conjunto de conhecimentos acumulados nas últimas guerras de massa depois do Vietnã. Aí reunimos desde impasse e derrota naquele país, os conflitos no Oriente Médio (onde a superioridade técnico-militar de Israel nunca conseguiu vencer as Intifadas), ou a Somália, em 1993, ou ainda os conflitos na ex-Iugoslávia e, mais recentemente, entre Israel e o Hizbollah, no Líbano em 2006. Neste conjunto de conflitos sempre houve uma potência com ampla superioridade militar, tecnológica e econômica enfrentando forças dispersas e/ou organizadas em torno de um Estado-Rede, com instituições reticulares, "moles" e comando disperso. Nos casos acima, apenas em Kossovo a potência superior - no caso EUA+Otan - conseguiu uma vitória completa. Neste caso, o adversário estava organizado sob forma de Estado-Nação e não conseguiu - como era sua estratégia - atrair as forças atacantes para uma longa guerra de desgaste no terreno que controlavam. Quando os Estados Unidos - com Colin Powell à frente - se recusaram a iniciar uma invasão terrestre do montanhoso Kossovo e enfrentar as tropas nacionalistas sérvio-kossovares num longo corpo-a-corpo, a estratégia de Belgrado ruiu. A opção americana pelo uso continuado do poder aéreo e o ataque a direto ao centro de poder do adversário - no coração da Sérvia - mostrou-se acertada.

Na ocasião, Colin Powell declarou ser este o modelo ideal de guerra para os Estados Unidos: "(...) nós atiramos e eles morrem!".

Rumsfeld e Wolfowitz consideravam isso pouco, insuficiente e perigoso. Embora fosse ideal para impor a vontade dos Estados Unidos, não era suficiente para chegar a objetivos mais amplos, tais como mudar os regimes políticos dos chamados "out-law states" (Cuba, Coréia do Norte, Síria, Iraque, Irã, entre outros) ou realizar a tão desejada "reconfiguração do Grande Oriente Próximo", conforme os sonhos dos neo(?)conservadores. Era necessário dispor do chamado "hard power" americano, o uso avassalador do poder militar, agora com uma gestão tecnológica.

No manual de Rumsfeld, a guerra moderna dos Estados Unidos deveria ser rápida, tecnológica, com baixas reduzidíssimas. Para isso deveriam utilizar o grande poder de fogo das forças combinadas americanas - o chamado "Espanto e Pavor". Logo no primeiro momento desencadear-se-ia um ataque brutal contra os centros de poder do adversário, com o uso maciço da aviação e de mísseis, combinado com ataques diretos aos centros do poder executivo e militar, "decapitando" o

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo