Papa pede que advogados boicotem divórcio

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Publicado Segunda, 28 de Janeiro de 2002 às 18:17, por: CdB

O papa João Paulo II pediu que os advogados católicos romanos não aceitem mais casos de divórcio. A declaração foi o destaque do encontro anual de magistrados do Vaticano. O sumo pontífice afirmou que o divórcio "está se espalhando como uma praga" pela sociedade e os advogados deveriam se recusar a ser parte do "mal". "Advogados, que trabalham livremente, deveriam sempre se recusar a utilizar suas profissões para uma finalidade que é contrária à justiça, como o divórcio", disse o papa. "O casamento é indissolúvel... não faz sentido falar sobre a 'imposição' das leis humanas, porque elas devem refletir e proteger as leis naturais e divinas", acrescentou o líder da Igreja Católica. João Paulo II disse ainda que a indissolubilidade do casamento não é uma "simples escolha pessoal", mas um dos fundamentos da sociedade. Para o papa, os advogados católicos não deveriam ajudar nem mesmo as pessoas que não pertencem à religião a obter um divórcio. O sumo pontífice declarou também que os magistrados devem tentar evitar os divórcios, embora admita que isso pode ser mais difícil já que os advogados não podem se recusar a ouvir os casos. "Aqueles que trabalham em casos na Justiça Civil devem evitar o envolvimento pessoal em algo que pode ser entendido como uma cooperação com um divórcio... eles devem procurar medidas efetivas para proteger o casamento, inclusive intermediando conciliações", explicou João Paulo II. As declarações do papa provocaram revolta entre alguns advogados e políticos. "Advogados devem ser livres para trabalhar com as leis do Estado", declarou Denise Lester, especialista britânica em Direito Civil. "Esta é uma sociedade multiétnica em que o divórcio é legal e os advogados, como empregados da comunidade, devem estar aptos a realizar seu trabalho", disse Lester, acrescentando que os magistrados já tentam promover reconciliações quando isso é possível. "Os comentários do papa podem ter um impacto na liberdade de escolha dos advogados e de seus clientes", completou a especialista britânica. Para o advogado italiano Cesare Rimini, "as leis do Estado não interferem nas leis da Igreja e, portanto, a Igreja não deveria interferir no trabalho de juízes e advogados". A ativista italiana de extrema-direita Alessandra Mussolini também atacou a idéia do papa de tentar salvar o casamento a qualquer custo. "O divórcio, às vezes, é uma salvação, porque interrompe uma espiral de ódio e terror até mesmo para crianças", disse a neta do ditador fascista Benito Mussolini.

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