Ossada de brasileiro é encontrada no deserto do Arizona

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Publicado Quarta, 15 de Outubro de 2003 às 22:06, por: CdB

O sonho americano terminou em tragédia para o comerciário Gilmar Alves dos Santos, 36 anos. Sua ossada foi encontrada no deserto do Arizona pela patrulha de fronteiras dos Estados Unidos, próximo à divisa com o México, no último dia 2 de setembro.
 
Gilmar estava desaparecido desde maio do último ano, quando deixou a família em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, para tentar atravessar ilegalmente a fronteira seca dos Estados Unidos nas mãos de um 'coiote', pessoa que, por dinheiro, transporta imigrantes ilegais através do deserto.

Agora, o fim do sonho americano de Gilmar decretou o início de um pesadelo para sua família no Brasil, que luta para conseguir o dinheiro necessário para o translado do corpo. A ossada foi entregue ao Instituto Médico-Legal da cidade de Douglas, também no Arizona. A causa da morte foi atribuída ao longo período de exposição às amplitudes térmicas, sede e inanição.
 
O corpo teria sido devorado por coiotes e abutres. De acordo com comunicação enviado pelo Ministério das Relações Exteriores à família, que reside no Bairro Altinópolis, o Setor de Assistência a Brasileiros foi informado do fato no dia 9 de setembro deste ano, através de um funcionário do IML.

Conforme as autoridades norte-americanas, junto aos restos mortais de Gilmar estava seu passaporte brasileiro. Nele consta que Gilmar nasceu em Fidelândia, no Vale do Mucuri. Na carteira de Gilmar, que segundo a família havia chegado à fronteira mexicana com US$ 2,2 mil, só restavam US$ 40.
 
Também foram encontrados uma caderneta de endereços com dois números de telefone e um bilhete aéreo. Gilmar já estaria morto há pelo menos dois meses antes do encontro do corpo.
Ainda de acordo com o Ministério, os restos mortais ficarão guardados no IML dos EUA por 60 dias, isto é, até 2 de novembro. Esse é o prazo máximo determinado para a identificação definitiva e reclamação do morto, que a partir de então poderá ser enterrado como indigente.
 
- Se isso acontecer, nosso sofrimento será ainda maior. Perder um filho e depois deixar ele ser enterrado como indigente é insuportável. Não vou agüentar isso - disse a mãe, Maria Martins dos Santos, 62 anos.

Abel Oliveira, da Divisão de Assistência Consular do Itamaraty em Brasília, informou ontem ao Hoje Em Dia que a família não precisa se preocupar com a possibilidade de Gilmar ser sepultado como indigente. O órgão já teria feito contato com o Consulado em Los Angeles informando do interesse da família pelo translado e pedindo a apuração do valor necessário, de US$ 4 mil a US$ 8 mil.
 
- Vamos fazer uma campanha para arrecadar esse dinheiro - informou a cunhada de Gilmar, Cristiana Alves da Silva, 32 anos.

Gilmar só teria contado à família a intenção de imigrar ilegalmente aos EUA um dia antes da viagem. Segundo o irmão, Admisso Alves, 33 anos, Gilmar era separado da mulher, com quem teve um filho, hoje com 12 anos, e outros dois filhos, de outro relacionamento. Seu sonho era comprar um sítio e um carro novo.
 
Gilmar trabalhou 16 anos em duas empresas de material de construção tradicionais de Valadares - Construcenter e Construleste -, sendo escolhido vendedor padrão por vários anos consecutivos.

O valadarense teria sido agenciado por um homem identificado somente como Gilmar. Diante da pressão da família pela falta de notícias, 60 dias depois, ele devolveu a nota promissória no valor de US$ 7 mil e a moto que o comerciário havia dado como garantia. Depois, desapareceu.

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