Os tucanos contra Lula

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Publicado Sábado, 01 de Abril de 2006 às 12:51, por: CdB

Joaquim Cardozo, o grande calculista de Niemeyer e excelente poeta, começa um de seus poemas com a fantasia de que se haviam reunido, em congresso, todos os ventos do mundo. Era o engenheiro, ser construído para lutar contra os elementos naturais - sobretudo o vento - que se assustava com a previsível tragédia de uma convenção que juntasse o euro e o siroco, o minuano, os ventos atlânticos e os tufões caribenhos.

Começam a reunir-se, nesta sexta-feira, dia de desincompatibilização, todos os irrequietos e imprevisíveis ciclones políticos. O ministro Palocci, que começou a escorregar ainda em Ribeirão Preto ao escolher mafiosos de subúrbio como auxiliares diretos, caiu na fossa da desgraça por motivos de rasteira futilidade. Deu à oposição mais pólvora para o ataque ao governo. Enfim, está caindo pelos pecados menores, e não pela sua obediência automática aos recados do Império, repassados com fidelidade pelo Sr. Henrique Meirelles.

O caseiro Francenildo descobrirá, dentro de pouco tempo, que está sendo usado pelos tucanos que - como é de praxe nesses casos - irão deixá-lo na calçada, quando ele lhes deixar de ser útil. Os homens mais experientes não sabem como se sentir mais penalizados diante do caso do rapaz piauiense, cujo nascimento acidentado, em uma sociedade hipócrita como a nossa, já era um fardo a carregar: se com a sua situação social, ou com o festival de cinismo com que o exaltam nestes dias.

Nestes dias, é claro, o rapaz se sente como uma celebridade nacional, como celebridades foram, um dia, o motorista e a secretária, no caso Collor. Mas é constrangedor ver homens que normalmente não lhe dirigiriam a palavra, senão de cima para baixo, saudá-lo como o grande herói nacional, e usá-lo, como o usaram os tucanos da OAB, como garoto propaganda de um ridículo movimento de impeachment contra o presidente da República.

Se esses senhores meditassem o que ocorreu há 42 anos, exatamente naquela véspera de 1º de abril, seriam menos afoitos. É possível que estejam jogando com os grã-finos e alienados que se reúnem hoje no Instituto Millenium e no movimento "Queremos mais Brasil", que pretendem reeditar o que houve em 1964. Mas se esquecem de que a história pode repetir-se como farsa (de acordo com Marx) ou rodando para trás.

Quem imagina obter o impeachment do presidente, assim sem mais nem menos, que se prepare para confrontar-se a uma reação poderosa dos trabalhadores. Lula pode ter todos os defeitos que lhe atribuem, e alguns mais. Se os tiver, não estará sendo muito diferente de muitos de seus antecessores. A diferença é que ele não é do grupo dos que sempre mandaram no Brasil.

E não contem com os quartéis. É mais fácil, na situação nacional de hoje, encontrar militares com a consciência de que o inimigo deixou de estar no Sul, para vir do Norte, do que aqueles que, enganados pelas circunstâncias, aplaudiram a teoria das fronteiras ideológicas. Os que estão enfrentando as dificuldades da selva amazônica, e preocupados na vastidão das fronteiras ocidentais do Brasil, sabem muito bem que as fronteiras são físicas, concretas, que devem ser rigorosamente fechadas contra os aventureiros.

Uma sucessão tumultuada

Nessa fase de formação das candidaturas, tem havido de tudo. Os tucanos, no afã de ampliar e consolidar suas alianças, prometem o paraíso a seus aliados possíveis. Mas, em política, o pecado maior não é a falsa promessa, mas a boa-fé em tê-la como válida. O Sr. Itamar Franco não toca no assunto, mas o Sr. Barbosa Lima Sobrinho que, no limiar dos cem anos, permanecia arguto observador, afirmava a seus amigos saber que Fernando Henrique, para garantir o apoio do então presidente, na fase de escolha de candidatos presidenciais, prometeu-lhe fazê-lo candidato à sucessão em 1998. Outro testemunho, neste sentido, foi o do jornalista João Emílio Falcão, em confidência a este colunista. Quando a glória deu ao grão tucano o manto de pavão, Fernando Henrique achou que ning

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