Ocidente precisa derrubar o culto a Bin Laden

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Publicado Segunda, 26 de Novembro de 2001 às 09:54, por: CdB

O Afeganistão certamente não acabou e teme-se voltas furiosas de chamas nesse país ou em outros países islâmicos. Mas já é possível constatar que a primeira fase do drama de 11 de setembro está prestes a acabar. E, na falta de um balanço, algumas observações podem ser sugeridas. A primeira observação diz respeito a George W. Bush. Deus sabe quanto a Europa, e particularmente a França, do alto de seus 2 mil anos de cultura, do alto de Goethe, de Racine, de Dante, de Platão e de Descartes, riu desse texano inculto, que sempre usa umas palavras com o significado de outras. E hoje podemos avançar essa proposição revolucionária: Bush é menos besta do que parece. Podemos ir mais longe? Podemos compará-lo a Harry Truman, o rude vendedor de camisas que se tornou um dos grandes presidentes americanos? Sem chegar até aí, somos obrigados a reconhecer que sua reação após o 11 de setembro foi muito hábil para evitar uma catástrofe radical no planeta: o racha do mundo em dois campos, com os muçulmanos de um lado e, do outro, os demais. Nenhum dos países islâmicos voltou-se efetivamente contra a coalizão. Mesmo o Irã, que há 20 anos era a loucura do mundo, se manteve discreto. Teerã até trabalhou em favor da coalizão (um sucesso, então, para o partido dos islâmicos democratas do presidente Mohammad Khatami). Temia-se muito que o Paquistão, ninho de integralistas islâmicos e inventor (com a CIA e os EUA) do Taleban, se revoltasse contra o presidente Pervez Musharraf, que optou por ajudar os EUA. Nada disso! Musharraf teve apoio e até aproveitou para expurgar o Exército paquistanês (e sobretudo seus serviços secretos) de seus elementos mais perigosamente integristas. O Iraque, feudo do antiamericanismo (principalmente após a Guerra do Golfo e os abomináveis embargos que lhe foram impostos), não se mexeu. Na Palestina, a intifada não aumentou e o líder palestino, Yasser Arafat, ataca os extremistas islâmicos do Hamas. Na Síria, nenhuma agitação. E o mais estranho: dois dos países islâmicos mais violentos, o Sudão e o Iêmen, longe de apoiarem Osama bin Laden e os taleban, muito pelo contrário, colaboraram veementemente com os EUA, provavelmente para apagar seus desvios recentes. Esse é o quadro atual. Mas esse quadro ilustra sobretudo as posições oficiais desse mundo muçulmano, as dos governantes. Sob essas classes esclarecidas, ricas e poderosas, há povos desesperados - e ali o perigo persiste. As massas pobres estão freqüentemente de coração com os taleban, às vezes com Bin Laden. Nesse sentido, o resultado da caçada a Bin Laden desempenhará um papel determinante para o futuro. Há nessa caçada todos os ingredientes necessários ao nascimento de um mito: o homem sozinho, atacado por hordas de soldados superequipados, que sempre consegue escapar. O homem no fundo das grutas, no fundo de suas trevas; o homem que vive nas rochas e nas areias e desafia a mais luxuosa potência industrial e militar de todos os tempos. O homem que sacrifica sua vida pelo triunfo, não de suas próprias idéias, mas de seu Deus. Bin Laden conhece muito bem esses elementos "irracionais". Desde o início, ele produz o mito em série, retomando sempre imagens de epopéias antigas: ele está escondido e é exibido nas telas, mudo e barulhento como um trovão, aqui e lá, presente e ausente, onipresente, riquíssimo, "optando pelos pobres", agindo ao mesmo tempo na solidão e na comunidade, na miséria e no luxo. Ele utilizou diabolicamente os cenários do Afeganistão para ressuscitar em espíritos religiosos e rudimentares imagens antiqüíssimas, provenientes do início da história: o homem de barba longa, vestido com togas atemporais, enfurnado em rochas que podem ser as de Maomé, de Gilgamesh ou até mesmo de São João Batista. Só falta o arcanjo Gabriel. Rejeitado e maldito. Santo e assassino. Militar e místico. Ele usa até a própria morte: seja a de seus seguidores (pois a morte voluntária dos pilotos dos Boeings contribuiu para semear o terror no mundo

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