O desafio ético na internet

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Publicado Segunda, 11 de Novembro de 2002 às 19:08, por: CdB

Para falar sobre o desafio ético na Internet, no II Seminário Internacional de Comunicação de Brasília, o professor e jornalista Marco Antônio Dias, assessor especial da Reitoria da Universidade das Nações Unidas, começou lembrando que a informação pode existir unilateralmente, mas a comunicação não! "Entusiasmem-se com a modernidade, mas não se esqueçam de que os princípios básicos da comunicação são permanentes e que um desses princípios é o receptor", advertiu. Uma das agruras das modernas tecnologias foi acabar com postos de trabalho em todas as profissões. Com o jornalismo não foi diferente. Acabou-se a figura do copy-desk, encarregado de reescrever ou re-agrupar matérias, e os gráficos, uma das categorias mais fortes dentro de uma redação estão desaparecendo. Agora, disse o professor, o site de busca na Internet Google já anuncia um jornal feito totalmente por computadores, onde as informações padronizadas serão buscadas, agrupadas e impressas automaticamente. "Neste caso, como assegurar a objetividade? Como assegurar, sem uma apuração, que não se produzam notícias falsas? Esse jornal vai produzir informação, mas não fará comunicação!", questionou. "A Internet traz um amontoado de coisas, mas é preciso distinguir o que é informação, o que é notícia e o que é fraude", frisou, lembrando que é muito importante não confundir informação com conhecimento. "A informação é algo a que se tem acesso e a comunicação é cognitiva, isto é, envolve percepção, atenção, memória, linguagem e processos intelectuais", explicou. O professor Dias considera que estamos vivendo uma nova civilização em que mudaram as relações de trabalho. Segundo ele, para importar um chip de computador, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de ferro. A fabricação de chips gerou milhares de empregos nos Estados Unidos, a extração de ferro não gerou empregos no Brasil. A Organização Mundial do Comércio (OMC) é, segundo o professor, fruto de um golpe de estado internacional com poderes legislativo, executivo e judiciário. E todos os serviços devem ser submetidos a ela. A mudança da legislação brasileira para aceitar capital estrangeiro nas telecomunicações é fruto da pressão da OMC. "Se bem que essa legislação já vinha sendo burlada há muito tempo pelas grandes empresas de comunicação", ajuntou. O problema ético, na visão do professor Dias, pode ser discutido em nível macro. A pornografia na Internet, por exemplo, deve preocupar. Jogadores virtuais vão gastar três bilhões e meio de dólares neste ano. Mas, para nós que trabalhamos com a comunicação é preciso ter cuidado em não enviar tudo o que se recebe, não se limitar às fontes da Internet, mas checar todas as informações. Ele lembrou também, citando o escritor e teórico da comunicação italiano, Humberto Eco, que a desigualdade no conhecimento e no desenvolvimento da informação ainda existe. "A ilha de Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos, onde está localizado Wall Street, o centro financeiro do mundo, possui mais internautas que a África. A sociedade americana, uma das mais informatizadas, é também uma das mais mal informadas, pois o povo estadunidense desconhece as intervenções que o seu país faz pelo mundo", assinalou. Por fim, o professor Dias falou que o desenvolvimento de novas tecnologias provoca o nascimento de muitas mitologias, mas advertiu que o controle da informação nas mãos de poucos se consolida cada vez mais. Citando o filósofo francês Jacques Maritain, ele disse que um projeto de nação que se desenvolve deve ter em vista o mundo. "Para se construir uma sociedade maior, mais justa, mais igualitária, num ambiente internacional, acabar com a desigualdade na Internet faz parte desse processo", concluiu.

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Edição digital

 

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