Vários dossiês distribuídos em Brasília nos últimos tempos, pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-A), têm um conteúdo bastante semelhante ao dos grampos realizados na Bahia, por ordem da Secretaria de Segurança do Estado, e que vêm sendo investigados pela Polícia Federal e pelo Tribunal de Justiça baiano. A denúncia, com detalhes de alguns desses textos, está na edição da revista IstoÉ que chega neste sábado às bancas. A revista comparou o conteúdo de pelo menos quatro relatórios enviados pelo senador baiano ao Palácio do Planalto, entre maio e setembro do ano passado, com as acusações relatadas nos grampos baianos. Ao final, a reportagem considera as semelhanças "uma perturbadora evidência" da participação do senador nas operações de escuta ilegal. Os autores da reportagem - Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz, os mesmos que há duas semanas afirmaram ter ouvido ACM confessar que mandou grampear o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) - citam três assessores diretos do então presidente Fernando Henrique Cardoso que receberam dossiês de ACM. Um deles foi Pedro Parente (na época, chefe do Gabinete Civil). Outro, o ministro Guilherme Dias (do Planejamento). A terceira autoridade a receber os documentos do senador foi a corregedora-geral da União, Anadyr Marcondes. Os assuntos dos dossiês e das escutas ilegais eram os mesmos, o tipo de acusação também. E o material chegava aos destinatários poucos dias depois de as escutas terem sido realizadas. Um dos dossiês foi remetido ao Planalto dia 23 de maio de 2002. Tinha a palavra "Benito" grafada com a própria letra de ACM e falava de licitações que estariam beneficiando o deputado baiano Benito Gama (sem partido), rival político do senador, para obras na Cia. de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Além de Benito, o relatório cita nomes de pessoas próximas dele, que também seriam beneficiadas. Um segundo texto, do dia 13 de agosto, traz a anotação "FHC" feita em letras enormes e menciona uma ligação de Geddel para Fernando Henrique, na qual o deputado fala sobre a liberação de R$ 20 milhões no Ministério dos Transportes, com aval do Planejamento. Outros dois grampos, com data de 8 de agosto, também contêm conversas sobre essa liberação - desta vez com um assessor do Ministério dos Transportes e depois com o ministro interino, João Henrique. Dias depois, ACM envia um fax ao ministro Guilherme Dias, para que "se acautele contra o cerco e a pressão" partidos de "agatunados da política baiana" que pretenderiam usar a verba em suas campanhas políticas. Uma nova denúncia citada pela revista, de 11 de setembro, foi dirigida à corregedora Anadyr Marcondes e advertia que uma empresa de publicidade ligada a Geddel - a Link - estaria 'avançando o sinal' em campanhas publicitárias do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). A finalidade, dizia ACM, era obter fundos para campanhas eleitorais de seu rival baiano.
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
Nova denúncia relaciona dossiês de ACM às escutas telefônicas
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Publicado Sábado, 08 de Março de 2003 às 06:21, por: CdB
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