Nicole Kidmann dá um show de interpretação em Moulin Rouge

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Publicado Sexta, 24 de Agosto de 2001 às 10:01, por: CdB

A tela toda escura só é interrompida por um pequeno espaço de luz. Nele se vê um deslumbrante olho azul. Assim é a primeira cena de Nicole Kidman em Moulin Rouge - Amor em Vermelho, de Baz Luhrmann, que tem pré-estréia hoje em São Paulo. É um resumo do que Nicole faz em todo o filme. Ela está nele para produzir magia, classe, glamour, sedução e beleza. Não para interpretar. Como uma deusa do glamour cinematográfico de antigamente, Nicole Kidman é uma presença em Moulin Rouge. Como Satine, a grande estrela do lugar e a cortesã mais bem-sucedida de Paris, ela é uma fantasia sexual mais do que uma personagem dramática. Suas aparições no filme são "cartões-postais da mente desejosa", como disse um crítico. Da mesma forma que a Paris-1900 de Moulin Rouge é um lugar que nunca existiu fora dos palcos de som australianos onde o filme foi feito, Satine é uma idealização, um sonho adolescente de uma mulher perfeita. O fato dela ser uma prostituta de coração de ouro e morrer tuberculosa como uma dama das camélias, com uma gotinha de sangue na ponta dos lábios, só dá ao mito a legitimação consagradora de um lugar-comum. Para viver essa fábula, não poderia ter sido escolhida uma boneca de carne tipo Jennifer Lopez ou uma executiva suburbana como Sandra Bullock. Demi Moore seria dura demais, Meg Ryan doce demais. Angelina Jolie na belle époque (mesmo fake) não faria o menor sentido. Assim, Nicole Kidman é o objeto de desejo certo no filme certo. Rodopios entre admiradores - Ela está perfeita, mesmo sem usar 0,2% do seu talento de atriz; talvez o único momento de verdade do filme todo seja o momento em que o jovem escritor Christian (Ewan McGregor) se apaixona por ela, ao vê-la cantando Diamonds are Girl´s Best Friends, canção emblemática de outro símbolo sexual, Marilyn Monroe, enquanto rodopia sobre uma multidão de admiradores. Nos fantásticos (infelizmente únicos) 20 minutos iniciais de Moulin Rouge, Nicole tem a função de deixar Christian e o público aos seus pés. Como o filme de Baz Luhrmann funciona como uma espécie de catálogo do musical, com citações que vão de A Noviça Rebelde a Cantando na Chuva, sem esquecer Cabaret, Evita, Carmen e Chorus Line, a personagem de Nicole é um inventário do glamour, que vai de Greta Garbo a Marilyn, passando por Marlene Dietrich e até a fada Sininho, de Peter Pan. Talvez por isso mesmo, uma pequena cena de seminudez seja até estranha, pois o registro de sedução é outro. Ou seja, é o dos corpetes, das roupas esplendorosas e coloridas -- elas, como toda a produção de Moulin Rouge são um triunfo e dificilmente deixarão escapar um Oscar -, das jóias espalhafatosas. Entre estas, Nicole usa seus olhos como faróis de atração. Eles encerram o trabalho da atriz, das cenas cômicas às românticas. Como se está falando de clichês, o de "espelhos da alma" se aplica aqui. Satine vive segundo o olhar de Nicole. Como se não bastasse, ela explora a sensualidade do corpo e do rosto de pele de marfim e os cabelos ruivos em contraste. E faz todo sentido a loucura do Duque (Richard Roxburgh) pela mulher que insiste em fugir dele. Nicole Kidman, ainda por cima, canta - e canta bem (ela é formada em canto, além de em arte dramática). Na sua carreira, a havaiana (sim, ela nasceu em Honolulu, não na Austrália) Nicole, "Nic" para os íntimos, só ensaiou uma vez o papel de uma sedutora como o de Satine: foi quando derreteu o Cavaleiro das Trevas, no terceiro Batman. Aos 34 anos, em processo de divórcio de Tom Cruise, com quem se casou na véspera do Natal de 1990, dois filhos adotados, ela queria ser bailarina, mas acabou estudando arte dramática desde os 10 anos, porque, com sua pele muito branca, não podia se dedicar aos esportes e brincadeiras sob o sol da Austrália, onde foi criada. Fez filmes e TV e despontou para o mundo em Terror a Bordo (1989), em que era a mulher de Sam Neill; o casal era perseguido por um psicopata num pequeno veleiro. Chamou tanta atenção que foi estrelar, ao lado de um jovem

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