Muro construído por Israel isola cidade

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Publicado Domingo, 16 de Novembro de 2003 às 14:08, por: CdB

O muro construído por Israel ao redor de Kalkilia transformou a cidade de 43 mil habitantes numa autêntica prisão, da qual só podem sair através de um acesso controlado pelo Exército israelense.

Um muro tem oito metros de altura e defendido por torres de observação do Exército dá as boas-vindas ao visitante que observa Kalkilia do lado israelense da Linha verde, a apenas dois quilômetros da cidade de Kfar Saba.

Este segmento de muro foi construído na região mais ocidental de Kalkilia, onde a cidade faz fronteira com uma das principais estradas de Israel, com o objetivo de evitar que os veículos que cruzam esse país de norte a sul sejam alvo de ataques de milicianos palestinos.

Apenas no início do muro de cimento, no sul da cidade, uma barreira amarela rodeada por enormes blocos de concreto permanece fechada e destinada à passagem exclusiva do Exército israelense. Em outro lado, a cerca se transforma numa cerca dotada de sensores eletrônicos que cerca o restante da cidade. "As chaves para poder sair de Kalkilia devem ser pedidas aos soldados israelenses", lamenta com sarcasmo o prefeito da cidade, Marouf Zahrán.

Diversos quilômetros de muros e um caminho de terreno argiloso para as patrulhas cercam o perímetro da cidade e levam à única entrada para a população, situada na parte oeste.

- Os israelenses dizem que construíram tudo isto por razões de segurança, mas se realmente se trata disso eles têm que construir o muro nas linhas de 1967, e não a dois metros das casas de nossa população ou de nossos terrenos ou dentro inclusive de nossas fazendas - acrescenta Zahrán.

O prefeito explica que esta grande barreira não é uma simples separação entre Israel e a Autonomia Palestina, mas uma separação entre os palestinos e suas terras, entre suas aldeias e entre suas cidades e povos.

Em julho de 2002, o Governo israelense começou a construção de uma barreira de separação dos palestinos de mais de 650 quilômetros de comprimento e composta por muros de concreto de até oito metros de altura, torres de vigilância, muros de alambrado eletrônico, circuitos fechados de televisão, atalhos para patrulhas de vigilância e, em alguns casos, metralhadoras teleguiadas.

A decisão seguia uma onda de atentados suicidas e a impossibilidade do Exército ou dos serviços secretos de preveni-los. Zahrán, que participou esta semana da inauguração de um novo pavilhão de pediatria do hospital da UNRWA em Kalkilia, relata que o muro afeta nossas vidas cotidianas porque há pessoas que morreram nas esperas nos postos de controle.

O novo pavilhão foi financiado pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aeci), embora o hospital exista desde 1950 e seja o único nesta zona da Cisjordânia que presta seus serviços às famílias de poucos recursos econômicos. O novo pavilhão está equipado com departamentos de neonatologia, ginecologia e assistência pediátrica. "O muro e as constantes restrições do Exército israelense reduziram em 50 por cento os pacientes que podem chegar até o hospital", explica o prefeito.

Em Kalkilia, vivem aproximadamente 30 mil refugiados palestinos, que podem chegar a 230 mil se somados aos das aldeias do norte da Cisjordânia.

O doutor Mahmud Barham, chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia, afirma que são registrados cerca de 120 nascimentos mensais e que 10 por cento desta cifra requer uma cesariana. Ele disse ainda que os nascimentos prematuros foram a primeira causa da mortalidade infantil da Cisjordânia. Barham, disse que o conflito influencia em grande medida nas grávidas e destacou, por exemplo, os altos casos de anemia geralmente causados por uma precária alimentação. "A tensão na zona também provoca abortos e, por outro lado, a maioria das mulheres que dão à luz precisa de transfusões de sangue", ressaltou.Depois do parto, as mães descansam junto a seus bebês em quartos com compartimentos divididos por cortinas.

- A Intifada e o mu

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