Morales quer se transformar em mais um 'pesadelo' para os EUA

Arquivado em:
Publicado Terça, 20 de Dezembro de 2005 às 08:59, por: CdB

O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, disse que agora tem a oportunidade de se unir ao que chamou de "luta antiimperialista" do presidente de Cuba, Fidel Castro. Morales, um índio aymara que prometeu legalizar o cultivo de coca, disse ainda que o governo dos Estados Unidos utilizou o narcotráfico como um pretexto para instalar bases militares na região.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, afirmou que o futuro das relações do país com a Bolívia vai depender do comportamento de Morales ao assumir a Presidência. Evo Morales também afirmou que vai anular os direitos de propriedade das petroleiras sobre o gás natural na boca do poço. Ele insistiu, porém, que seu plano "não significa expropriar e nem confiscar os bens das transnacionais".

- Os direitos à propriedade no poço acabaram. Isso está acabado. Precisamos de sócios e não de proprietário-  disse Morales em uma entrevista em Cochabamba.

A eleição de Evo Morales para a Presidência da Bolívia traz novos desafios à presença do governo Bush na América Latina, onde sua impopularidade cresce e a esquerda está em ascensão. Autoridades norte-americanas tentaram demonizar Evo Morales, um ex-líder cocaleiro e o primeiro indígena eleito presidente boliviano, desde que ele começou a ganhar destaque. O próprio Morales descreveu o seu Movimento ao Socialismo (MAS) como um "pesadelo" para Washington. Mas Morales dá sinais de que poderá ser um líder pragmático e os Estados Unidos deveriam evitar confrontos, dizem analistas.

- É importante reconhecer que ele claramente tem um mandato do povo boliviano. As pessoas sabiam em quem estavam votando - afirmou o analista Jess Vogt, do Washington Office on Latin America, em uma entrevista.

A vitória eleitoral de Morales é a mais recente conquista da esquerda latino-americana, em uma região em que as pessoas se tornam cada vez mais desiludidas com as políticas econômicas de livre mercado, que fizeram pouco para melhorar a vida dos mais pobres. O sentimento antiamericano está aumentando, como fica evidente nas pichações dos muros de cidades como São Paulo ou nos protestos de rua que recepcionaram o presidente dos EUA, George W. Bush, quando ele foi a uma cúpula na Argentina, no mês passado. A tendência ajudou líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que segue uma política econômica conservadora e tem uma relação de respeito com Washington, e seu colega venezuelano Hugo Chávez, envolvido em uma disputa com autoridades do governo Bush enquanto tenta conter a influência dos EUA e espalhar a sua própria revolução social. Quem Morales vai seguir? Seus elogios a Chávez alarmaram o governo Bush, que teme um bloco de esquerda ao redor do presidente venezuelano e do presidente cubano, Fidel Castro.


Morales se opõe a Washington em duas áreas importantes da sua política latino-americana: a criação de uma zona de livre comércio unindo as Américas e a guerra contra as drogas. Ele prometeu reduzir um programa de erradicação de coca patrocinado pelos EUA. A folha de coca é o principal ingrediente da cocaína, mas também é usado pelos índios na medicina tradicional. A Bolívia é o terceiro maior produtor de cocaína, depois da Colômbia e do Peru. Morales também prometeu nacionalizar a indústria de gás natural pois a Bolívia tem as segundas maiores reservas do produto na América do Sul, e usar a riqueza para ajudar os pobres.

Mesmo assim, Larry Birns, do Council on Hemispheric Affairs, em Washington, disse:
- Não acho que haverá um confronto de cara, porque Morales é um homem prático.

Na véspera da eleição, Morales disse esperar uma relação apropriada com os Estados Unidos. Na segunda-feira, ele afirmou que os direitos das empresas estrangeiras com relação ao gás boliviano acabariam, mas que a Bolívia ainda queria trabalhar em conjunto com elas.

- Morales não está exigindo desapropriações. Eles não são bobos. Eles estão assumindo uma postura pragmática -&

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo