O comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, disse que o Brasil é visto na Europa como líder incontestável da América Latina.
- O Brasil deve ser visto como uma rocha em democracia e economia dentro da América Latina, com uma influência dominante no continente que não mudará - disse Mandelson em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
Com essa afirmação o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, definiu a recepção que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ter nesta quinta-feira na Cúpula de Viena por parte da União Européia (UE).
Segundo Mandelson, apesar dos últimos acontecimentos na América do Sul, a imagem de Lula não se enfraqueceu no cenário internacional. O comissário também não considera que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, esteja ganhando uma influência crescente na região.
- Não vejo a situação dessa forma. O Brasil é e seguirá sendo um líder incontestável. Suas posições sempre têm importância para a comunidade internacional - insistiu.
Lula chega enfraquecido a Viena, dizem analistas. Uma prova disso é a reunião bilateral que manterá com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, no sábado.
- Seria impensável que estivéssemos em um mesmo lugar e não nos reuníssemos a sós - disse o comissário, para quem Amorim tem um "papel fundamental" nas negociações sobre a Rodada de Doha.
Mandelson evitou perguntas sobre o medo que a política de Chávez provoca na Europa. Outros representantes da UE adotaram a mesma postura.
- Com a proximidade da Cúpula de Viena, a UE não está preocupada em especular sobre possíveis mudanças de cenário. O importante agora é ver como esse encontro pode dar um novo fôlego a nossa parceria estratégica - resumiu o presidente do comitê de Relações Exteriores do Parlamento Europeu (PE), Elmar Brok.
Entretanto, uma fonte da comissão de Comércio afirmou que "todos temos medo de que a influência de Chávez se espalhe pela América Latina".
Nacionalismo
Mandelson admite que alguns pontos da política venezuelana podem preocupar os investidores estrangeiros e causar instabilidade na região, mas, por enquanto, o momento é de cautela.
- Depende de como se analisa a política de Chávez. Há investidores que prestam mais atenção nas atitudes populistas e nacionalistas e, conforme esse tipo de medidas vai se sucedendo, tendem a ter mais cautela. A conseqüência afeta a América Latina como um todo, incluindo o Brasil - disse o comissário.
Ao mesmo tempo, Mandelson acredita que o governo de Chávez tenha uma linha neoliberal que é priorizada por outros investidores, opinião compartida pelo vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para a Comunidade Andina, Max van den Berg.
- A UE progressista encara o fator indígena na América Latina como um contra-movimento em direção a um modelo neoliberal. Já é hora de uma nova visão democrática na América do Sul. Europa deve acompanhar essa nova direção e garantir que o desenvolvimento seja democrático - afirmou.
Para essa Europa, a nacionalização do gás decretada pelo presidente boliviano Evo Morales "deve ser compreendida, contanto que seja feita de forma organizada".
- Afinal, é uma boa idéia usar os recursos naturais alcançar o desenvolvimento social - concluiu van den Berg.