Líder trabalhista não vê assentamentos como um crime

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Publicado Domingo, 28 de Agosto de 2011 às 17:02, por: CdB

Líder trabalhista não vê assentamentos como um crimeA provável líder do Partido Trabalhista israelense, Shelly Yachimovich, defendeu o papel do seu partido no estabelecimento dos assentamentos, ao dizer “eu certamente não vejo o projeto dos assentamentos como um pecado ou um crime. E foi o Partido Trabalhista que fundou o empreendimento dos assentamentos nos territórios. Isso é um fato histórico”, afirmou a candidata à liderança do Partido Trabalhista.

Gidi Weitz - Haaretz

A provável líder do Partido Trabalhista Shelly Yachimovich defendeu o papel do seu partido no estabelecimento dos assentamentos, ao dizer “eu certamente não vejo o projeto dos assentamentos como um pecado ou um crime”. Numa entrevista publicada na revista do Haaretz na sexta-feira (19/08), Yachimovich acrescentou: “No seu momento, foi um movimento completamente consensual. E foi o Partido Trabalhista que fundou o empreendimento dos assentamentos nos territórios. Isso é um fato. Um fato histórico”.

A entrevista ocorreu em função da sua candidatura à liderança do Partido Trabalhista e à proliferação dos protestos das barracas pelo país, com Yachimovich abordando a questão dos assentamentos, sua imagem pública e os prognósticos de longo prazo para o seu partido.

O que fazemos com o fato de que assentados se juntaram aos manifestantes? Você os saúda, isso a torna feliz?

“Sim, inequivocamente. Um do pontos mais significativos da força desses protestos é que você não vê as bandeiras políticas convencionais. Há uma nova linguagem, uma linguagem unificada, uma linguagem unitária”.

Mas e se os bilhões que são investidos nos assentamentos tivessem sido investidos no interior da Linha Verde, talvez não fosse preciso o protesto das barracas.

“Eu tenho familiaridade com esta equação bem conhecida: que se não houvesse assentamentos, haveria um estado de bem estar dentro das fronteiras de Israel. Eu tenho conhecimento da visão de mundo que mantém a posição segundo a qual se cortarmos o orçamento da defesa pela metade haverá dinheiro para a educação. Esta é uma visão de mundo que não tem conexão com a realidade”.

Quando foi observado que é parte do atual discurso público sugerir que menos financiamento para os assentamentos na Cisjordânia e para a defesa implicaria mais dinheiro para serviços sociais necessários, Yachimovich disse: “Eu rejeito isso; isso simplesmente não é factualmente correto, embora agora seja percebido como axiomático. Uma escola que está localizada num assentamento e que tem um número x de estudantes poderia estar localizada no interior da Linha Verde e ter o mesmo número de crianças com o mesmo custo. Eu não digo que os assentamentos eles mesmos não custem mais dinheiro. Mas mesmo que o orçamento da defesa fosse cortado pela metade e mesmo que os custos dos assentamentos fossem cortados pela metade, a ideologia econômica que nos levou a fazê-lo não buscaria desviar os novos fundos disponibilizados a serviço do estado”.

"Tanto o[Primeiro Ministro Benjamin] Netanyahu como [o ex-Primeiro Ministro Ehud] Olmert falaram constantemente em cortar serviços públicos. Netanyahu disse que o sistema educacional é uma vaca gorda que não dá leite. Quando você considera que há um homem gordo e uma vaca gorda que não dá leite, você não transfere orçamento para eles, ponto, porque você pensa que eles deveriam estar magros ou privatizados. Este é o tratamento tatcherista que nada tem a ver com a política da direita ou da esquerda. O que está acontecendo agora é tão potente que está sacudindo o velho discurso que nos prende aos mesmos dogmas e à mesma retórica, mas está finalmente conectando a verdade. Até agora esta verdade tem sido mantida escondida”.

Você compraria produtos dos assentamentos, tais como o azeite de oliva de Har Bracha?

“Sim, eu não sou a favor de boicotes”.

Há muito que se especula que a personalidade de televisão e jornalista Yair Lapid entre na política. Embora ele tenha negado qualquer plano iminente disso ocorrer, Yachimovich foi peremptória na sua rejeição:

“Yair não reflete a agenda social democrata, mas a sua oposição completa”.

E quanto a [o ex líder do partido religioso de extrema direita Shas] Aryeh Deri? Sairá ele como grande vencedor desse terremoto? Ele merece retornar à política?

“É muito difícil, para mim, aceitar o conceito de que uma pessoa que estava convencida de suas ofensas criminosas seria um líder. Não vemos remorso nesse caso. O que vemos é uma rejeição da autoridade das cortes judiciais e uma ausência total de lamento pelo que fez. [Deri passou quase dois anos na cadeia depois de aceitar propina, quando trabalhava no ministério do interior]. Eu acho muito difícil aceitar o retorno de alguém assim à política. As pessoas me dizem “o povo vai decidir”, “ele pagou sua dívida com a sociedade”, “ele será um parceiro político essencial depois das eleições” – mas isso não influencia minha posição de princípio de que criminosos não devem ser líderes. Isto não é auto evidente?”.

Sobre a líder do Kadima, Tzipi Livni e seu partido, Yachimovich disse:

“O Kadima é agora em larga medida um partido economicamente mais neoliberal que o Likud. A voz dominante da política econômica do Kadima é privatizadora, uma voz que protege os donos do capital. Observe que até na questão do gás natural houve uma autêntica oposição do Kadima à redistribuição dos lucros do gás”.

“Livni é inequivocamente uma neoliberal – ela era executiva chefe do setor corporativo do governo. O que temos em larga medida aqui é um expediente costumeiro de alienar completamente o povo dos problemas econômicos e sociais, ou não lidar com eles, ou não discernir um problema, ou preferir, convenientemente, focar só nas questões políticas de direita versus esquerda de repente mude a sua retórica”.

Yachimovich acrescentou: "Tzipi Livni entoa 'dois estados para duas nações' três vezes ao dia – não que ela esteja liderando qualquer iniciativa política nova”.

A candidata a líder do Partido Trabalhaista Yachimovich também comentou a sua própria imagem pública.

Algumas pessoas ainda a consideram antipática e você suscita antagonismo neles. Você está ciente dessa imagem?

“Eu vejo um grande número de pesquisas e elas sugerem que eu suscito não apenas estima como sentimentos. Um político não pode agir sem gerar emoção. A nuance que você está estabelecendo implica o simples chauvinismo. Isso encontra eco no bem conhecido ‘bad bad bad’ de Rani Rahav [que é como o assessor do primeiro ministro chamou Yachimovich numa carta publicada na imprensa]. Este é um discurso voltado especialmente ao fato de sou mulher. Você vai encontráa-lo em toda discussão em que haja uma mulher que tenha alcançado um lugar em que outros não a veem. Até Tzipi Livni – uma política completamente não ameaçadora nem desafiadora, e tampouco uma feminista – teve o mesmo tratamento. Eu aceito isso com resignação."

Quando perguntada se seu objetivo é se tornar primeira ministra, Yachimovich disse:

“Numa visão futura, certamente”; como um objetivo realista, não. A líder do partido trabalhista não será convidada a participar do governo depois das próximas eleições. “O partido trabalhista tem um longo caminho a percorrer antes de ganhar a confiança do povo e tem de agir numa linha verdadeira, profunda, ideológica e honesta. Não com por meio de mágica."

Tradução: Katarina Peixoto


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