Juros altos devem manter lucro de bancos em 2003

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Publicado Sábado, 08 de Março de 2003 às 11:49, por: CdB

Se há um setor da economia brasileira que vai muito bem, obrigado, esse é sem dúvida o setor bancário. Mesmo com a fraca atividade econômica e a ainda baixa demanda por crédito se comparada a padrões internacionais, os bancos vêm exibindo lucros robustos graças sobretudo aos elevados juros praticados no país. No ano passado, eles tiveram ganhos bilionários, impulsionados principalmente por operações com títulos públicos e em segunda escala pelos empréstimos, como comprovam resultados já divulgados por instituições como o Bradesco, Santander Banespa e o estatal Banco do Brasil. Em 2003, segundo especialistas, a performance do setor não deverá ser diferente. "Com a taxa Selic em alta e o spread bancário ainda elevado, o resultado (dos bancos) não deve fugir muito do que tem sido nos últimos anos. O volume de crédito do país como um todo é muito baixo, mas eles se fazem valer pelo spread", avalia Fernando Coelho de Oliveira, analista da ABM Consulting. Principal instrumento do Banco Central para conter a inflação, a taxa básica de juros subiu 8,5 pontos percentuais desde outubro do ano passado. Nos dois primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa Selic já foi elevada de 25 por cento para 26,5 por cento ao ano, considerada uma das mais altas do mundo. Os bancos ganham aplicando em títulos públicos atrelados à taxa de juros e ao câmbio e com os spreads, que consistem na diferença entre o que a instituição gasta para captar recursos e o que cobra para emprestá-los. Cálculos da ABM Consulting, baseados em levantamento preliminar do BC a partir de demonstrações financeiras dos 50 maiores bancos que operam no Brasil, mostram que as operações com títulos responderam por 44 por cento da receita em 2002, seguidas pelas operações de crédito que corresponderam a 41 por cento. Os ganhos no mercado de câmbio e com a cobrança de tarifas pelos serviços prestados aos clientes representaram 9 e 6 por cento, respectivamente. De acordo com a consultoria Austin Asis, a rentabilidade do setor -isto é, o retorno sobre patrimônio líquido garantido ao acionista - atingiu 25,7 por cento no ano passado, bem acima dos 19,9 por cento registrados em 2001, considerando os balanços já divulgados. O cálculo exclui o Banco Itaú e o HSBC Bamerindus, que ainda não anunciaram seus resultados. ESCALA VIA AQUISIÇÕES Para aumentar a base de clientes e ganhar escala, os bancos devem continuar este ano de olho em oportunidades de compra que surgirem em 2003, dizem especialistas. Campeão de compras em 2002, o Bradesco mostrou renovado apetite, arrematando a unidade brasileira do espanhol BBVA e a carteira de recursos administrados do JP Morgan neste início de ano. O mercado agora especula sobre o destino do Banco Sudameris, controlado pelo grupo italiano Intesa, depois que o Itaú desistiu de negociar sua aquisição em novembro. Para analistas, o movimento de compras é um processo natural e preparatório para um futuro com juros mais baixos. Embora a aceleração da inflação hoje dificulte uma queda imediata dos juros, a tendência é que isso ocorra gradualmente para estimular a economia. "Os bancos nacionais terão que ser maiores para sobreviver em uma economia de juros baixos. Esse processo de concentração nada mais é do que os bancos se preparando para esse cenário", diz Oliveira, da ABM Consulting. À PROVA DE CRISES Os principais bancos brasileiros vêm mostrando ser capazes de driblar com maestria mesmo o mais estressante cenário econômico. Com o controle da inflação galopante a partir da introdução do Plano Real em meados de 1994, a principal e mais fácil fonte de receita dos bancos, o chamado "float", desapareceu. Algumas instituições sucumbiram com o fim do ganho com a inflação e foram absorvidas por outras mais sólidas, incluindo bancos estrangeiros, dentro de um processo de reestruturação capitaneado pelo BC. Foi o primeiro grande teste para os bancos, que rapidamente se adaptaram à nova

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