Julgamento de policial do "carro preto" é adiado em Santos

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Publicado Segunda, 25 de Junho de 2012 às 13:27, por: CdB

O soldado da PM André Aparecido dos Santos seria julgado hoje por nove tentativas de homicídio e uma morte. O julgamento foi adiado para agosto

25/06/2012

José Francisco Neto

da Redação

 

Foi adiado para o mês de agosto o julgamento do soldado André Aparecido dos Santos, do 6º Batalhão da Polícia Militar da Baixada Santista. O policial ia ser submetido a júri popular na manhã de hoje (25) no Tribunal de Justiça de Santos, por ser acusado de nove tentativas de homicídio, sendo um consumado. A ausência de uma testemunha de acusação foi o motivo de não ter ocorrido a sessão. 

A maioria dos delitos em que o réu está sendo julgado ocorreu no dia 10 de abril de 2011, quando foi cometida uma série de atentados em Santos e em São Vicente, aparentemente sem uma razão específica, na qual Paulo Roberto Barnabé, 34 anos, foi assassinado.

Barnabé caminhava pela rua Pindorama, a meia quadra da praia do Boqueirão, em Santos, quando um carro preto se aproximou e o motorista efetuou os disparos. Atingido com um tiro no peito, morreu na hora, enquanto seu amigo Arsênio, que estava a poucos metros, foi baleado seis vezes. Arsênio sobreviveu.

Testemunhas informaram que o veículo era preto, de pequeno porte e vidros filmados. O policial Aparecido tem um Corsa, cujos vidros têm película protetora escura, o que reforçou ainda mais a possibilidade de ser ele o responsável pelo crime.

Após cartazes que foram colocados em postes denunciando Aparecido como o atirador do carro preto, os crimes de 10 de abril começaram a ser investigados pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG), o que embasou a prisão preventiva do policial militar. No momento, Aparecido se encontra no presídio militar Romão Gomes, zona norte de São Paulo.

 

Dor e sofrimento

Além de ter sido vítima, Arsênio de Oliveira Júnior foi uma das testemunhas que compareceram hoje (25) ao Tribunal para depor contra o “PM do carro preto” - nome que ficou conhecido o policial André Aparecido dos Santos. Arsênio ficou paraplégico depois de ter sido alvejado seis vezes pelo PM acusado, e compareceu ao Tribunal deitado numa maca. 

“Dentro do nosso entender, ele é uma testemunha-chave, porque foi a pessoa que teve mais proximidade com o acusado”, é o que relata Érica Kinikel , esposa de Arsênio. Ela ressalta ainda que ele não tem dúvidas de que o PM que está sendo acusado é o autor dos disparos. “Ele ia estar lá apenas para confirmar o fato,” explica.

Érica espera que o policial seja julgado e punido pela lei, porém, diz que nada se comparará ao sofrimento que eles vêm passando. “Ele pode ficar preso cem anos, mas não vai sofrer um terço do que o meu marido está sofrendo. Qualquer coisa que vier a acontecer com ele vai ser muito pouco perto do que ele fez. Ele não atingiu somente o meu marido, atingiu uma família inteira”, desabafa. 

 

Mais ataques

Nesta segunda-feira (25), em São Vicente, o cantor de funk Júlio César Santos Ferreira, de 26 anos, conhecido como Mc Neguinho do Caxeta, foi baleado. Ele estava em um carro com mais duas mulheres na hora do atentado.

Após ter feito um show, o cantor se dirigiu a um restaurante em São Vicente. Ele estava levando duas amigas para casa, por volta das 5h, quando indivíduos passaram em um veículo efetuando vários disparos. 

Débora Maria, integrante do movimento Mães de Maio, disse que o jovem atingido mora próximo a casa de sua mãe e do m´c primo, assassinado no dia 19 de abril deste ano. “Eles estão aproveitando a onda de novo, pois o Secretário de Segurança deu carta branca. O padrasto dele mesmo disse que depois de matar o Primo e o m´c careca em abril, seu filho começou a receber ameaça de morte”, explica.

A vítima foi atingida por quatro tiros, todos na região do ombro. Na hora do atentado, uma das mulheres pulou do carro e ficou levemente ferida. 

Os dois foram encaminhados para o Hospital Municipal (antigo Crei) e não correm risco de vida. As investigações estão sendo feitas pelo 2º DP de São Vicente. 

Para Débora, o Ministério Público é conivente com a situação, pois quando envolve a polícia militar eles demoram para começar a investigar. “O Ministério Público sabe da existência do grupo de extermínio da polícia militar. Por que quando matam um policial rapidinho eles pegam?”, questiona. 

Nos últimos dois anos, quatro cantores de funk e um DJ foram assassinados na Baixada Santista. Todos os crimes permanecem sem solução. 

 

Veja a cronologia dos crimes

10 de abril de 2010

DJ Felipe da Silva Gomes, conhecido como DJ Felipe da Praia Grande e o MC Felipe Wellington da Silva Cruz, o Felipe Boladão, ambos de 20 anos, se preparavam para um baile funk quando foram assassinados na Praia Grande.

12 de abril de 2011

Duda do Marapé, de 27 anos, foi morto com ao menos nove tiros à queima roupa, sob o elevado da Rodoviária, no Centro de Santos. O local é conhecido como a cracolândia da Cidade, em razão do comércio e consumo intenso de entorpecentes. 

19 de abril de 2012

Jadielson da Silva Almeida, o MC Primo, de 28 anos, foi morto a tiros no Jóquei Clube, em São Vicente. Primo foi sumariamente executado na frente do casal de filhos – um menino de 5 anos e uma menina de 9.

28 de abril de 2012

Cristiano Carlos Martins, de 32 anos, também conhecido como MC Careca, foi morto a tiros próximo a um salão de cabeleireiro, no Conjunto Habitacional Dale Coutinho, no Castelo.

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