Parlamentares britânicos decidiram nesta terça-feira abrir um inquérito para apurar os motivos que levaram o primeiro-ministro Tony Blair a atacar o Iraque. O premiê é acusado de enganar o Parlamento e o público com informações falsas sobre o suposto programa de armas químicas e biológicas do ex-ditador Saddam Hussein. A Comissão de Relações Exteriores do Parlamento disse que vai examinar a decisão do primeiro ministro de ir à guerra, se concentrando principalmente na questão das armas de destruição em massa. Blair e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declararam ao líder iraquiano alegando que o arsenal de Saddam representava uma séria ameaça à segurança mundial. Mas nenhum armamento químico, biológico ou nuclear foi encontrado, provocando acusações de que os dois líderes forjaram informações de inteligência para justificar a guerra. Furioso, Blair nega com veemência as acusações e diz que não há necessidade de nenhum inquérito independente. Segundo o porta-voz do premiê, o caso deveria ser investigado pela Comissão Conjunta de Inteligência e Segurança, comitê do Parlamento que responde diretamente ao primeiro-ministro. Ao contrário do que ocorre na Comissão de Relações Exteriores, os inquéritos da Comissão Conjunta de Inteligência e Segurança são realizados a portas fechadas. Inquéritos semelhantes estão sendo discutidos em Washington, onde o Senado planeja fazer audiências sobre os motivos da guerra. A questão das armas de destruição em massa acabou se transformando num pesadelo para Blair, que desafiou a opinião pública ao defender a guerra, mas parecia ter saído ileso do conflito após a rápida queda de Saddam Hussein. - Ao tentar justificar a guerra, Tony Blair estendeu sua credibilidade até o limite e fez potencialmente um grande mal a sua própria posição e à confiança do público no governo - disse Charles Kennedy, líder do partido oposicionista Democrata Liberal. Dois ex-ministros de Blair, que renunciaram por causa da guerra contra o Iraque, acusaram o premiê de enganar o público e cometer uma "asneira monumental" ao atacar o Iraque. Cinquenta parlamentares do partido de Blair, o Trabalhista, bastante dividido em relação à guerra, assinaram moção pedindo que o primeiro-ministro publique todas as provas que tem contra Saddam. Um deles disse que o caso é "mais sério que Watergate", referindo-se ao escândalo que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon. O ceticismo em relação aos motivos de Blair para a guerra cresceu depois que a BBC mostrou uma reportagem sobre o caso. Na reportagem, fontes dos serviços de inteligência do país disseram que o gabinete de Blair transformou os relatórios sobre o Iraque "mais sensuais" do que eram, acrescentando que as armas podiam ser ativadas 45 minutos após as ordens de Saddam.
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
Inquérito vai apurar motivos que levaram Tony Blair a entrar na Guerra
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Publicado Terça, 03 de Junho de 2003 às 19:35, por: CdB
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