INJUSTIÇA INFINITA Diário de um contra-insurgente

Arquivado em:
Publicado Quarta, 17 de Julho de 2002 às 21:15, por: CdB

Por Stan Goff Stan Goff serviu no exército dos EUA durante duas décadas nas Forças Especiais, treinando exércitos do Terceiro Mundo. Seu relato pessoal dos projetos de contra-insurgência aparece quando os autores da política, em Washington, pressionam por aumento da ajuda militar ao governo colombiano, para sua guerra contra as guerrilhas esquerdistas. Faz calor em Tolemaida. Todo o vale do rio Sumapaz queima feito o inferno. Escabroso, semiárido, cheio de espinhos e mosquitos, é o lugar ideal para a Escola Lanceros, onde os militares colombianos realizam seu curso mais duro de treinamento e avaliação. A 100 quilômetros de Bogotá, Tolemaida é também o centro das Forças Especiais da Colômbia, algo como o Fort Bragg da Colômbia. Tinha casado pela segunda vez havia apenas 10 dias quando as 7ª Forças Especiais me enviaram ali. Bill Clinton estava em campanha para a presidência contra George Bush, e lembro que os rapazes da Força Delta que tinham sido enviados conosco gritaram quando apareceram os resultados da eleição. "Aquele amigo de veados, fujão do serviço militar! Merda!" . A Delta estava ali treinando um seleto grupo de soldados colombianos para o "combate homem a homem," o que significa bater-se dentro de prédios em situações com reféns e coisas do estilo. Estávamos treinando dois batalhões das Forças Especiais da Colômbia em operações noturnas com helicópteros e em táticas de contra-insurgência. É claro que estávamos ali ajudando o exército colombiano a defender a democracia contra as guerrilhas esquerdistas, que eram os inimigos da democracia. Não importava que só uma ínfima fração da população tivesse os meios para recrutar e promover candidatos às eleições ou que o terror ameaçasse à população. Não estou sendo cínico. Só que agora que eu acordei. Me levou um par de décadas. Cresci em uma vizinhança onde todos trabalhavam na mesma fábrica, a McDonnell- Douglas, que produzia os F-4 Phantom que davam apoio aéreo às tropas no Vietnã. Meu pai e minha mãe trabalhavam na montagem da fuselagem central. A única coisa que eu sabia era que devia combater a ímpia ameaça coletivista do comunismo. Assim, entrei no Exército, sete meses depois de passar em cima do laço pela escola de segundo grau. Em 1970, me apresentei como voluntário para a infantaria aerotransportada e para o Vietnã. Nos anos seguintes, descobri que não tinha a menor idéia sobre o comunismo. Tudo que assisti no Vietnã foi uma guerra racista conduzida por um exército invasor, e que os mais afetados eram gente muito pobre. Deixei o Exército, mas a pobreza me levou a retornar em 1977. Não demorei muito a começar a ascender pela escorregadia ladeira da carreira militar. Mas não gostava de ser soldado de guarnição e gostava de viajar. Portanto, foi inevitável terminar nas Operações Especiais, primeiro com os Rangers, e depois com as Força Delta. Em 1980 fui ao Panamá. Ali, as cercas nos separavam dos zonies - os moradores das favelas que viviam na Zona do Canal. Depois disso, fui a El Salvador, a Guatemala e a uma série de países terrivelmente pobres. O fato de a gente, como nação, defender os ricos contra os pobres começava a martelar-me - primeiro minhas idéias preconcebidas, depois minhas racionalizações, e para terminar, minha consciência. 1983: O velho cara das Forças Especiais que se apresentava como oficial político nem sequer tratava de dissimular seu verdadeiro trabalho na Embaixada dos EUA na Guatemala. "Você está na seção política?" perguntei. Eu já sabia. Estava tratando de ser discreto. "Sou um maldito agente da CIA," respondeu. O homem da CIA me havia adotado pela amizade de um conhecido comum, um dos meus companheiros de trabalho com quem havia servido no Vietnã. O homem da CIA me disse onde conseguir o melhor churrasco, o melhor peixe, a melhor música, os melhores drinks. Uma tarde passamos no bar El Jaguar no lobby do hotel El Camino, a 1,6 km da Embaixada dos EUA, na Avenida da Reforma. Tomou oit

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo