'Importante é democracia forte na Bolívia', diz Garcia

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Publicado Domingo, 18 de Dezembro de 2005 às 10:09, por: CdB

O governo brasileiro acredita que é fundamental para a América do Sul ter uma Bolívia próspera, forte e democrática, independente de quem ganhe as eleições, disseram fontes diplomáticas brasileiras. Cerca de 3,6 milhões de eleitores foram às urnas no país andino neste domingo, numa disputa entre líder cocaleiro Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), e o ex-presidente de ultradireita Jorge "Tuto" Quiroga, da frente PODEMOS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou recentemente sua simpatia pelo sociealista Morales.

Não há segundo turno, e o Congresso, recém-eleito, deve decidir em janeiro quem será o novo presidente. O assessor da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, destacou que o entendimento do governo brasileiro aconteceu com todos os candidatos, sem distinção de linha ideológica.

- Se ganhar o Tuto, tudo bem. Se ganhar o Evo, tudo bem - disse ele a jornalistas em La Paz, acrescentando que o Brasil vai oferecer apoio institucional e manter programas de cooperação econômica com o país vizinho.

Garcia duvida que a Bolívia vá enfrentar novo período de instabilidade após as eleições, já que os candidatos polarizam as visões da maioria indígena pobre, do lado de Morales, e a elite branca e rica, que se identifica com Quiroga.

- A Bolívia esteve por duas vezes à beira de uma guerra civil nos últimos anos, mas houve sabedoria em todos os atores políticos. Esta eleição demonstra que a democracia veio para ficar - afirmou.

Em 2003, violentos protestos pela nacionalização da indústria do gás eclodiram no país, gerando a derrubada de dois presidentes e dezenas de mortes. A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul, e 65% de seus 9,4 milhões de habitantes - metade indígenas de origem aimará, quéchua e guarani - vivem na miséria.

- É um país rico mas socialmente pobre, e isso tem que mudar - concluiu Garcia.

Investimentos

A elite empresarial do país concentra-se na província de Santa Cruz de La Sierra, próxima ao Brasil. É ali que estão instaladas as principais multinacionais petrolíferas e as grandes plantações agrícolas, principalmente de soja. A maior empresa em operação no país é justamente a Petrobras, responsável por quase a totalidade dos 850 milhões de dólares exportados pela Bolívia no setor petrolífero, que gera 10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) boliviano.

O Brasil, por sua vez, depende do gás natural da Bolívia para o abastecimento interno, que é da ordem de 60 milhões de metros cúbicos por dia, sendo que 24 milhões são provenientes do gasoduto Brasil-Bolívia. Recentemente, porém, o governo boliviano elevou os impostos para a exploração de petróleo e derivados de 18 para 50 por cento por meio de uma nova lei que busca devolver o controle do setor ao governo.

Garcia explicou que o Brasil precisa saber quais são as regras do jogo para voltar a investir no setor de gás. Assim que a indefinição jurídica acabar, novos investimentos devem voltar a ser feitos. Segundo o embaixador do Brasil na Bolívia, Antonino Mena Gonçalves, um deles seria a construção de um pólo petroquímico na fronteira com o Brasil, a ser operado pela Braskem, com investimentos de US$ 1,4 bilhão e início em 2006.

Para a Petrobras, diz Garcia, o investimento na Bolívia continua a ser estratégico, mesmo que o Brasil diversifique sua matriz energética com a construção de novos gasodutos na região, como com Venezuela e Peru.

- É claro que temos interesses econômicos e não queremos perder dinheiro - disse Garcia, enfatizando porém que o momento é de "cooperação política". O assessor acrescentou que o Brasil deverá continuar comprando gás mesmo que a indústria seja nacionalizada, desde que o preço seja "sucedâneo ao do Brasil".

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